Proposta de Projecto de Luta Contra a Tuberculose

Através de "DOT'S"

Introdução

O projecto proposto baseia-se em dados reais do Algarve, em 1996

O projecto baseia-se no pressuposto que algumas estimativas estarão correctas, por exemplo:

● O número de abandonos a monitorizar deverá ser próximo de 15% da totalidade dos doentes.

● Metade destes abandonos deverão ser toxicodependentes a fazer metadona nos CATs.

● Nas deslocações domiciliárias deverá ser necessário dispender 30 mn por deslocação-doente.

A experiência que tive em Olhão (desde 30 de Janeiro a 30 de Julho de 1998) confirma-nos o realismo destas estimativas:

● O número de abandonos monitorizados tem sido de 17,5% da totalidade dos doentes (Olhão tem estratos populacionais com grandes problemas educacionais e sócio-económicos pelo que não é de estranhar um ligeiro aumento em relação ao estimado).

● Mais de metade destes abandonos são toxicodependentes (4/7) a fazer metadona nos CATs, o que facilita o seu controlo.

● Nas deslocações domiciliárias tem sido necessário dispender menos de 30 mn por deslocação-doente (na realidade tem sido necessário apenas cerca de 15 mn).

● Após os primeiros seis meses começam-se a dar as "altas" pelo que o número de abandonos acumulados do passado e a ser seguidos em DOTS decresce muitíssimo, sendo o esforço necessário para manter o futuro controlo da situação totalmente irrisório, pelo que é incrível como o Estado não consegue resolver o problema da tuberculose: falta apenas a criatividade e flexibilidade necessária para iniciar DOTS nos Centros de Saúde...

Projecto

GRUPO ALVO: Doentes que abandonam ou provavelmente abandonarão a terapêutica nos Concelhos de Faro, Loulé, Olhão, Albufeira e Portimão.

JUSTIFICAÇÃO: Estes cinco concelhos são responsáveis por cerca de 80% da tuberculose pulmonar do Algarve, segundo as doenças de notificação obrigatórias em 1996, e os abandonos são previsivelmente de 15%, distribuindo-se segundo o Quadro abaixo apresentado.

OBJECTIVO: Diminuição da taxa da abandonos para menos de 5%

ESTRATÉGIA: Administração de DOTS aos abandonos ou potenciais abandonos (cerca de 15%).

● Quando os doentes são toxicodependentes a fazer metadona nos CATs: administrar a terapêutica juntamente com a metadona (actualmente cerca de metade dos abandonos são toxicodependentes).

● Nos restantes casos: deslocação aos domicílios.

ACTIVIDADES:

● Monitorização dos abandonos mensalmente.

● Articulação com os CATs para administração de DOTS juntamente com a metadona.

● Deslocação domiciliária de um técnico de saúde. Em cada concelho, supondo ser necessário 30mn por deslocação a casa de um doente, poderemos calcular os tempos necessários à prossecução desta actividade segundo o quadro seguinte:

Concelho

nº doentes*

nº abandonos**

nº abandonos em domicílio ***

tempo necessário diariamente em dot's bissemanal (30mn/doente)

Faro

72

11

6

1h 15mn

Loulé

58

9

5

1h

Olhão

65

10

5

1h

Albufeira

23

3

2

30mn

Portimão

21

3

2

30mn

* Tuberculose pulmonar notificada segundo o sistema de Doenças de notificação obrigatória em 1996
** Estima-se que os abandonos serão cerca de 15% dos casos de tuberculose.
*** Estima-se que metade dos abandonos são toxicodependentes a fazer metadona, sendo apenas a outra metade a que necessitará de deslocação domiciliária.

 ● Articulação com o Núcleo Executivo do Rendimento Mínimo Garantido e a Segurança Social nos casos de pobreza (existem verbas específicas para apoio na doença), para inserção dos doentes no plano terapêutico.

● Articulação entre o Delegado de Saúde, o Delegado do Ministério Público, e o Hospital, nos casos de internamento compulsivo.

GESTOR/RESPONSÁVEL: Delegado de Saúde


A responsabilidade do médico de Saúde pública?

A experiência de Olhão

Um guia técnico para o médico de saúde pública gerir a TOD


© António Paula Brito de Pina, 1998 (2005)