Educação Para a Saúde

Álcool

1. Introdução

A Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou as drogas pelo seu grau de perigosidade, seguindo critérios como o maior ou menor perigo tóxico, a maior ou menor capacidade de provocar a dependência física, e a maior ou menor rapidez em que esta dependência se estabelece.

Com base nos critérios anteriores, as drogas são classificadas em quatro grupos:

Grupo 1: ópio e derivados (morfina, heroína, ...);

Grupo 2: barbitúricos e álcool;

Grupo 3: cocaína e anfetaminas;

Grupo 4: LSD, canabinóides, tabaco, etc.

É interessante verificar que o álcool é classificado no Grupo 2 devido aos seus terríveis efeitos sobre a saúde, e a grande dependência física e psíquica que provoca quando consumido em excesso. Além do mais, se o álcool é considerado melhor que as drogas "duras" do Grupo 1 (heroína, por exemplo), não é por o seu abuso ter menores repercussões físicas ou psíquicas. De facto, o abuso de álcool poderá ter maior gravidade clínica que o consumo de heroína. A única grande vantagem do álcool, está tão somente na possibilidade cultural de muitas pessoas o conseguirem consumir sem abusar, enquanto com a heroína isto é praticamente impossível.

Além disto, também é verdade que o álcool, se consumido com muita moderação, poderá ter benefícios para a saúde, especificamente na prevenção das doenças dos vasos do coração e da arteriosclerose em geral. No entanto, para obter este benefício bastará beber cerca de um copo de vinho por dia (ou mesmo apenas um copo de vinho em dias alternados), não havendo maiores benefícios com maiores ingestões.

2. Abuso de Álcool

É fácil fazer-se o diagnóstico de abuso quando se vê alguém em estado de embriaguez. No entanto, é difícil fazer este diagnóstico quando a ingestão, embora menos maciça, é mais frequente e prolongada. Este tipo de consumidores geralmente trabalham e estão integrados na sociedade, mantendo um ligeiro ou moderado nível de alcoolémia ao longo do dia, e não entendem que têm um problema com o álcool. Muitos acidentes de trabalho e de viação, assim como muitos problemas de relação familiar e laboral são devidos a este tipo de consumo.

Mas então voltamos à mesma pergunta: o que é o abuso de álcool?

Abuso é para um homem adulto consumir diariamente mais de 24 gramas de álcool, o que equivale a 250 ml de vinho ou 3 copos de cerveja. Uma mulher adulta não deve ultrapassar os 16 gramas, o que equivale a 170 ml de vinho ou 2 copos de cerveja. Os menores e as grávidas não devem consumir qualquer quantidade de álcool — calculo do álcool que uma bebida contém e da taxa de alcoolémia produzida pela sua ingestão.

Estas recomendações fazem-se partindo do pressuposto que nos dias em causa não se consomem bebidas destiladas (por exemplo, aguardente, conhaque ou uísque).

Ultrapassar ligeiramente os valores atrás referidos (por exemplo, consumir 300 ml de vinho por dia) já é prejudicial para a saúde mas, como todos sabemos, não chega para embriagar. A embriaguez só sobrevém quando os consumos ultrapassam os 0,75 ou mesmo 1 litro de vinho (neste caso, um homem adulto geralmente só revela diminuição dos reflexos e maior desinibição).

A quantidade de álcool no sangue (taxa de alcoolémia medida em gramas por litro), embora tenha a ver principalmente com a quantidade de álcool ingerido, está também relacionada com outros factores, nomeadamente:

peso e sexo, atingindo as pessoas de baixo peso e do sexo feminino taxas de alcoolémia mais altas com menor ingestão de álcool.

ingestão rápida e maciça, especialmente se for feita fora das refeições, também leva a que se atinjam taxas mais altas.

É importante realçar que os sintomas da embriaguez só aparecem cerca de 15 minutos (se fora das refeições) a 30 minutos (se durante as refeições) após a ingestão alcoólica, e o álcool no sangue só baixa após muitas horas de trabalho do fígado. Isto porque o fígado é responsável pela eliminação de quase todo o álcool ingerido (cerca de 95%) e tem apenas uma capacidade de eliminar cerca de 0,1 gr/litro de alcoolémia por hora. Isto significa que um homem adulto que beba 1 litro de vinho, por apresentar geralmente cerca de 0,8 gr/l de alcoolémia, precisará de cerca de 8 horas para eliminar totalmente o álcool do sangue. É claro que, se o mesmo indivíduo beber o dobro, precisará evidentemente do dobro do tempo para o seu fígado fazer a eliminação do álcool.

3. Efeitos Prejudiciais do Abuso do Álcool

Para além da embriaguez, são várias as consequências individuais e sociais.

Ou seja, o abuso do álcool é responsável por muitos óbitos e incapacidades (devido aos acidentes e doenças que provoca), falta de produtividade no trabalho e violência familiar e criminal! Isto, aliado ao facto de provocar grave dependência física e psíquica e ser das poucas substâncias que causam lesões físicas irreversíveis, faz do álcool uma das drogas mais "duras" de sempre.

4. Mitos Relacionados com o Consumo de Álcool

Finalmente há que repor a verdade relativamente a alguns mitos falsos sobre os "benefícios" do álcool:

O álcool não aquece!

O que sucede é que o álcool faz a dilatação dos pequenos vasos sanguíneos da pele, aumentando a quantidade de sangue (quente) ao nível da pele e dando por isso a sensação de calor.

Infelizmente, isto faz com que o calor do corpo se dissipe mais facilmente para o exterior, levando mais rapidamente à morte por enregelamento em condições extremas...

O álcool não mata a sede!

A única bebida que mata a sede é a água. Todas as bebidas alcoólicas têm água em percentagens variáveis mas, o álcool que também contêm produz perda de água pela urina, o que significa que beber uma bebida alcoólica para matar a sede pode provocar mais sede...

O álcool não dá força para o trabalho físico!

O álcool atendendo ao seu efeito anestesiante diminui a sensação de cansaço, o que pode ser perigoso, porque o cansaço é um mecanismo que o nosso organismo tem de nos avisar de que devemos parar o esforço antes de atingirmos o nosso limite. De qualquer forma, o álcool não aumenta a força física. Embora seja muito rico em calorias, estas calorias especificamente têm o problema de nunca serem utilizadas pelo músculo, mas tão somente para os processos de metabolismo basal. Isto significa que beber álcool engorda, mas não dá energia para trabalhar!

5. Consumo em Portugal

Portugal é o 4º maior consumidor de álcool da União Europeia, estimando-se que cada português consumiu em média cerca de 11 litros de álcool puro no ano de 1993, o que é um exagero, considerando que o menor risco de mortalidade está em populações que consomem cerca de 2-3 litros por ano.

Parece haver uma ligeira diminuição global do consumo do álcool desde 1980, particularmente à custa duma diminuição marcada do consumo do vinho.

Infelizmente tem havido um enorme aumento do consumo da cerveja e das bebidas destiladas, especialmente entre os jovens, que adoptam cada vez mais um padrão de consumo maciço aos fins-de-semana (à volta dos pubs e discotecas) e abandonam o consumo regular às refeições, característico da cultura mediterrânica.

6. Estratégias para Programas de Prevenção

A eficácia de algumas estratégias de prevenção estão claramente definidas.

As campanhas educacionais baseadas apenas na informação sobre os malefícios do álcool em escolas, locais de trabalho ou nos meios de comunicação social, sem acompanhamento articulado e continuado com outras medidas, não tem demonstrado eficácia. No entanto, quando esta articulação é feita, são importantes para sensibilizar as diferentes comunidades para a implementação dos programas de prevenção, atendendo a participação comunitária ser fundamental para o sucesso dos programas.

As medidas ou orientações políticas que claramente têm tido sucesso onde foram implementadas são:

7. Bibliografia

Centro Regional de Alcoologia de Lisboa. O que deve saber sobre bebidas alcoólicas, Lisboa, 1999.

Lowinson J, Ruiz P, Millman R, Langrod J. Substance abuse. A comprehensive textbook, Williams & Wilkins, 1997.

Mello M, et al. Manual de Alcoologia para o clínico geral, Delagrange, Coimbra, 1988.

World Health Organization. Alcohol and health, implications for public health policy, WHO, Oslo, October, 1995.

World Health Organization. Alcohol in Europe, a health perspective, WHO, Copenhagen, 1995.

António Paula Brito de Pina © Portal de Saúde Pública, 2000