Qualidade da Água
A "prova dos nove" da qualidade de funcionamento de uma piscina é a medição da qualidade da sua água. Esta água encontra-se frequentemente contaminada, apesar dos esforços de algumas entidades gestoras. Com a sinopse seguinte, pretende-se, de forma simples e objectiva, contribuir para melhoria da qualidade da água das piscinas, públicas e privadas.
Os valores dos «indicadores» mais comuns de qualidade da água das piscinas e a frequência com que devem ser avaliados (analisados) são referidos no quadro seguinte:
Indicadores de Higiene |
Valor Máximo Admissível |
Frequência da Análise |
Origem |
Transparência |
Visualização perfeita do disco de Secchi a 10 ou mais metros* |
4 por dia |
Sujidade da água, crescimento de algas, etc. |
Coliformes totais |
< 10/100ml |
quinzenal |
Secreções nasais, expectoração, fezes, urina, solo (terra, etc.) |
Coliformes fecais |
0/100ml |
quinzenal |
fezes |
Estreptococos fecais |
0/100ml |
quinzenal |
fezes |
Pseudomonas aeruginosa |
0/100ml |
quinzenal |
Feridas da pele, ouvidos inflamados, olhos inflamados |
Estafilococos aureus (coagulase positiva) |
0/100ml |
quinzenal |
Feridas da pele secreções nasais, espectoração, urina, ouvidos inflamados |
Estafilococos coagulase negativa |
<20/100ml |
quinzenal |
Pele |
Mesófilos aeróbios totais (a 37ºC) |
<100/1ml |
quinzenal |
Sujidade dos banhistas, e das paredes/canalizações |
* O disco de Secchi é um disco de cor negra com 5 cm de diâmetro, que deve estar localizado na parte mais profunda da piscina.
Os indicadores deste quadro, à excepção da «transparência», referem-se sempre a bactérias. Estas bactérias, podem existir nas fezes, na pele, nas secreções nasais, na expectoração, etc., e por isso aparecem na água quando são introduzidas, por vezes inconscientemente, pelos banhistas.
Basicamente existem duas estratégias para atenuar e controlar a contaminação bacteriológica da água:
1ª - Diminuindo o número de bactérias introduzidas pelos banhistas;
2ª - Tratando a água de forma a matar as bactérias introduzidas pelos banhistas.
Numa piscina em circuito fechado é importante que se considerem as estratégias referidas para manter a boa qualidade da água. Em termos práticos, a sua execução não é difícil e consiste em:
1. Diminuição do Número de Bactérias Introduzidas pelos Banhistas
Impedir a entrada de banhistas em quantidade superior ao número máximo recomendado. O número máximo de banhistas em horas de ponta (períodos de maior afluxo/enchente) é o seguinte:
piscinas cobertas: 1 banhista por cada 2m2 de plano de água. Por exemplo, numa piscina com 25 metros de comprimento e 10 metros de largura (área: 250m2), o número máximo de banhistas nunca deve ser superior a 125.
piscinas descobertas: 1 banhista por cada 1m2 de plano de água. Por exemplo, numa piscina com 30 metros de comprimento e 15 metros de largura (área: 450m2) o número máximo de banhistas nunca deve ser superior a 450.
Os banhistas devem estar limpos ao entrar na piscina. Portanto, as instalações devem funcionar do seguinte modo:
os banhistas só devem ter acesso à piscina depois de passarem por zonas equipadas com chuveiros (podem ser balneários ou outras áreas, por exemplo, na zona envolvente da piscina).
nas zonas de chuveiros, todos os banhistas devem lavar-se com sabão.
depois das zonas de chuveiros, os banhistas só devem aceder à piscina passando por corredores ou áreas lava-pés, que devem ter água corrente desinfectada; estes lava-pés devem ser esvaziados todos os dias.
quando existem espaços relvados (ou outros), onde os banhistas permanecem nos intervalos, estes devem estar separados da piscina por barreiras arquitectónicas (podendo estas ser separadores de vegetação), excepto nas zonas de passagem que devem ter lava-pés. Neste caso, antes de cada banho na piscina os banhistas devem passar pelos chuveiros colocados na zona envolvente.
os banhistas devem ser avisados, através de cartazes ou por outras formas (por exemplo, através dos vigilantes), da necessidade de cumprirem os preceitos higiénicos acabados de mencionar.
2. Tratamento Eficaz da Água
Recirculação. A recirculação da água, para desinfecção e filtração, deve ser feita de 6 em 6 horas, no mínimo; nalguns casos pode ser feita de 4 em 4 horas. Nas bacias para crianças, geralmente mais contaminadas, pode ter de ser feita todas as horas.
Renovação. Diariamente deve proceder-se à eliminação, e consequente substituição/renovação, de 2-5% da água da piscina. Nas bacias para crianças a renovação diária da água deve ser de 15-20%.
A renovação da água é muito importante para a remoção da fina camada de gordura que se forma à superfície do lençol de água, e que provém dos cremes bronzeadores e da gordura das glândulas sebáceas dos próprios banhistas. Esta camada de gordura, geralmente microscópica, é um abrigo excelente para as bactérias que não foram eliminadas através da desinfecção pelo cloro.
Filtração. Deve ser efectuada sob pressão através de filtros fechados, com leito filtrante único de areia, ou leito misto de areia e antracite.
Desinfecção. O desinfectante mais usado é o cloro, e o controlo da desinfecção deve ser efectuado considerando os parâmetros e valores referidos no quadro seguinte.
Indicadores |
Valores Admissíveis |
Frequência |
Cloro residual livre |
0,5-1mg/l Þ se pH = 7-7,4 1-2mg/l Þ se pH = 7,5-8 |
4 por dia |
pH |
7-8 |
4 por dia |
Piscinas Públicas
Afixação de Resultados. Nas piscinas públicas é obrigatório afixar, em local visível, os resultados das inspecções sanitárias e das análises efectuadas à água de todas as bacias existentes (análises diárias e quinzenais).
Livro de Registo Sanitário. Para facilitar o controlo da qualidade da água, pelos funcionários da piscina, e confirmar a honestidade dos responsáveis perante uma inspecção sanitária, os resultados das análises devem ser sempre registados em livro ou arquivados em dossier específico. Todos as ocorrências e aspectos técnicos importantes − número de banhistas entrados diariamente, quantidade de água renovada (lida em contadores totalizadores), lavagens de filtros, verificações técnicas, etc. − também devem ser registados no mesmo livro ou dossier.
António Paula Brito de Pina © Portal de Saúde Pública, 1998