Infecções Gonocócicas (CID-10: A54)

Introdução clínica e epidemiológica

Este grupo inclui as doenças de transmissão sexual causadas pela bactéria Neisseria gonorrhoeae. As diferentes patologias e quadros clínicos que podem originar, dependem essencialmente da localização do processo inflamatório: uretrite, epididimite, cervicite, bartolinite, salpingite, endometrite, vulvovaginite, rectite, faringite e conjuntivite. A gonorreia é a situação mais frequente e traduz-se geralmente num quadro de uretrite purulenta (sobretudo no homem) ou de cervicite (mulher); a cervicite é geralmente assintomática. Enquanto que a rectite e faringite gonorreicas são relativamente comuns no adulto, a vulvovaginite aparece sobretudo em crianças; a conjuntivite é mais frequente em recém-nascidos de mães infectadas. Embora a bacteriemia gonocócica seja uma situação rara, pode originar um síndrome dermato-artrítico, endocardite e meningite; a amniotite neonatal e a hepatite tóxica são complicações possíveis.

O homem é o único reservatório do gonococo. O período de incubação é geralmente de 2-7 dias, nas infecções urogenitais, ou de 1-5 dias na conjuntivite neonatal. A transmissão faz-se por contacto directo com exsudados cervico-vaginais infectados, sobretudo por via sexual nos adultos. A transmissibilidade mantém-se até ao desaparecimento do gonococo, podendo ser interrompida 24 horas após o início de antibioterapia eficaz.

O controlo dos indivíduos infectados (doentes e portadores) faz-se através de antibioterapia eficaz (ceftriaxona, ciprofloxacina, ofloxacina; cefalosporina e eritromicina em grávidas), associada a abstinência sexual até 48 horas após o seu início; uma vez que a gonorreia ocorre frequentemente associada à sífilis, deve efectuar-se a pesquisa desta (VDRL) antes da instituição da antibioterapia e seis meses após o seu início. O controlo dos contactos inclui a pesquisa de todos os parceiros sexuais e o seu tratamento profilático (ceftriaxona e doxiclina); devem considerar-se parceiros sexuais todos os contactos sexuais ocorridos nas duas semanas anteriores ao início da uretrite aguda, ou nos dois meses anteriores ao início de salpingite e/ou endometrite. Nas “grávidas suspeitas ou de risco” deve efectuar-se a cultura dos exsudados cervico-vaginal e rectal. O controlo dos recém-nascidos de mães infectadas implica a realização de culturas conjuntivais, faríngeas, uretrais e rectais, e, caso exista infecção, as primeiras 24 horas de antibioterapia devem ser efectuadas em regime de isolamento hospitalar.

Critérios laboratoriais de diagnóstico

Exame directo (com coloração Gram), do exsudado endocervical (diagnóstico de presunção na mulher) ou uretral (homem), ou

Demonstração da Neisseria gonorrhoeae numa amostra clínica, através de detecção antigénica ou de ácidos nucleicos, ou

Isolamento-cultura em “meio de Thayer-Martin modificado”, do exudado vaginal (colo uterino, meato uretral, glândula de Bartholin) e ano-rectal.

Classificação dos casos

Caso provável: mulher em que se fez o isolamento de diplococo oxidase-positivo (exame directo com coloração Gram) numa amostra de exsudado endocervical, ou diagnóstico clínico de gonorreia efectuado por um médico,

Caso confirmado: caso confirmado laboratorialmente (exame directo no homem ou isolamento-cultura).

Notas

A infecção gonocócica urogenital (CID-10: A54.0-54.2) e a conjuntivite gonocócica do recém-nascido (CID-10: A54.3) são Doenças de Declaração Obrigatória em Macau. Todos os casos prováveis e confirmados devem ser notificados à autoridade sanitária pelos médicos clínicos e laboratórios de análises.

Em crianças com mais de um ano de idade, a ocorrência de uma infecção gonocócica urogenital pode ser considerada «indicador de abuso sexual».