Diagnóstico Laboratorial da Febre Tifóide
O diagnóstico de febre tifóide é efectuado através de hemoculturas, coproculturas e urinoculturas. Embora possa orientar o clínico, o teste de Widal foi abandonado devido à existência de um grande número de falsos negativos e falsos positivos; nunca deve ser considerado isoladamente.
Hemoculturas
É o melhor exame para estabelecer o diagnóstico definitivo. A sua positividade é máxima na 1ª semana de doença - cerca de 90% - descendo rapidamente para menos de 30% após a 3ª semana. Frequentemente são positivas durante as recaídas.
Coproculturas
Como a febre tifóide se dissemina por via fecal-oral, as coproculturas são o melhor exame para identificar os indivíduos que constituem perigo para a saúde pública, i.e., os portadores crónicos ou os doentes que se encontram em fase contagiosa.
A positividade das coproculturas é muito baixa na 1ª semana de doença - cerca de 10% - subindo rapidamente até um máximo de 75% na 3ª e 4ª semanas; depois volta a descer, sendo quase sempre negativa aos 3 meses. No entanto, cerca de 3% dos doentes têm coproculturas positivas um ano depois — são os portadores crónicos assintomáticos.
Uroculturas
O perfil da positividade das uroculturas é geralmente paralelo ao das coproculturas, atingindo um máximo de 25% de exames positivos na 3ª semana.
O estado de portador crónico urinário també, é possível, especialmente em indivíduos com prévias alterações patológicas vesico-renais. Por isso, quando se pretende identificar portadores crónicos é conveniente solicitar uroculturas, além das coproculturas.
Teste de Widal
Mede o título de aglutininas ou anticorpos anti-antigénios O e H.
Estas aglutininas aparecem na 2ª semana e sobem, até atingir um pico, na 5ª-6ª semana. No entanto, enquanto as aglutininas O desaparecem logo após a cura clínica, as H persistem durante anos, embora com um título baixo. Estas, as únicas que persistem após vacinação.
O teste de Widal é muito falível e foi abandonado pelas seguintes razões:
Em áreas endémicas, títulos elevados de aglutininas numa única amostra de soro podem significar simplesmente infecção antiga já curada (falsos positivos). Por outro lado, cerca de 10% dos doentes em áreas endémicas são seronegativos (falsos negativos).
O aumento do título de aglutininas pode ocorrer, para além da febre tifóide, nas seguintes situações (falsos positivos):
vacinação contra a febre tifóide,
doença inflamatória, auto-imune ou infecciosa, nomeadamente em casos de infecção com outros microrganismos do grupo das salmonelas e outras enterobacteriácias, brucelose, leptospirose, tifo, malária e doenças febris não específicas,
mudança dos "kits" utilizados nos laboratórios: efectivamente as diferenças existentes entre os antigénios comercializados, pode levar a falsas diferenças de 2 a 4 vezes o título de aglutininas numa amostra de soro, que é rigorosamente igual.
Na fase aguda da febre tifóide as aglutininas O podem não aparecer em doentes precocemente medicados com antibióticos, ou em imunodeprimidos (falsos negativos).
Bibliografia
Baron E, Finegold S. Bailey and Scott`s diagnostic microbiology. 8th ed., St.Louis, C.V. Mosby, 1990.
Benenson A editor. Controlo das doenças transmissíveis no homem. 13ªed. Washington, Organização Pan-Americana da Saúde, 1983.
Henry J editor. Clinical diagnosis and management by laboratory methods. 18th ed., Philadelphia, W.B.Saunders, 1991.
Koneman E, Allen S, Janda W, et al. Diagnostic microbiology. 4th ed., Philadelphia, J.B.Lippincott, 1992.
Last J, Wallace R, editors. Maxcy-Rosenau-Last public health and preventive medicine 13th ed.,Connecticut, Appleton and Lange, 1992.
Petersdorf R, Adams R, Braunwald E, editors. Harrison`s principles of internal medicine. 10th ed., New York, McGraw-Hill Book, 1983.
Valente C, et al. Diagnóstico serológico de algumas doenças infecciosas. In: Acta Médica Portuguesa,1993; 6:605-12.
Wallach J. Interpretation of diagnostic tests. 5th ed., Boston, Little Brown, 1992
© António Paula Brito de Pina (Centro de Saúde de Olhão), 1998
© Rosa Maria Quinta Martins (Hospital Distrital de Faro), 1998