A vigilância da gravidez em Tavira - o acesso e a utilização dos serviços de saúde

Estudo original publicado na Revista Portuguesa de Saúde Pública (1995; nº3)

Resumo

Neste estudo analisei a associação entre variáveis da acessibilidade e variáveis da utilização das consultas de vigilância de gravidez, no Concelho de Tavira em 1989.

As variáveis da acessibilidade foram subclassificadas em várias categorias: variáveis de acessibilidade propriamente dita (tempo ou dinheiro dispendido na deslocação ao CS), variáveis de acomodação (tempo perdido na marcação de consultas, facilidade em conseguir consulta no próprio dia), variáveis de disponibilidade (nº de faltas dadas pelos profissionais de saúde) e de aceitabilidade (satisfação com os profissionais de saúde).

As variáveis de utilização seleccionadas foram apenas duas: o nº de consultas no CS e o nº de consultas no médico particular.

A população em estudo foi o conjunto das mães de nados vivos, registadas no Livro de Assentos de Nascimentos como residentes no Concelho de Tavira em 1989, e dela foi extraída uma amostra aleatória, pelo método sistemático, de 88 mulheres (40% do Universo).

Construí um questionário fechado e de resposta múltipla, o qual foi aplicado com a minha ajuda a cada elemento da amostra, nos respectivos domicílios.

Perdi 20 elementos da amostra, ou por recusa em responder ou por impossibilidade em encontrá-los e por isso, testei a homogeneidade entre os casos perdidos e a amostra final quanto aos dados conhecidos para ambos (colhidos no Livro de Assentos de Nascimento): a idade, o estado civil e a freguesia de residência. Os dois grupos revelaram-se homogéneos, pelo que provavelmente os casos perdidos não provocaram viés nas conclusões.

Na análise estatística das associações acessibilidade-utilização utilizei metodologia não paramétrica (qui quadrado e prova de Fisher) porque a maioria das variáveis, além de não terem distribuição gaussiana, foi medida em escala ordinal.

Porque os resultados deste trabalho indicavam claramente uma maior utilização dos serviços de saúde que o inicialmente previsto, apesar de terem um viés por defeito em relação aos dados conhecidos da ARS, concluí que a vigilância da gravidez decorria melhor do que o esperado.

No entanto, isto devia-se menos ao CS e mais aos consultórios particulares, cujo papel na vigilância da gravidez era preponderante.

No CS, embora as utentes identificassem como problemas as faltas, os atrasos dos médicos e a insatisfação elevada para com os administrativos (que fazem o atendimento), estas variáveis não influenciavam a utilização das consultas. A única variável de acessibilidade que parecia ter influência nesta utilização era a satisfação da grávida para com o médico.

Contacto com o autor: SaudePublica@netcabo.pt

© António Paula Brito de Pina, 1998