Conhecimentos, opiniões e comportamentos de uma população universitária face à sida — estudo descritivo, transversal, com uma amostra aleatória de alunos da Universidade do Minho e da Escola Superior de Enfermagem Calouste Gulbenkian.
Estudo original: Braga, 2002
Resumo
Em Portugal, a epidemia da SIDA
continua a crescer de forma preocupante; segundo a ONUSIDA estima-se que haja
entre
O Modelo de Crença de Saúde afigura-se adequado para avaliar a disposição da população portuguesa, e em particular de alguns dos seus segmentos para adoptar comportamentos preventivos face à SIDA, como os estudantes universitários. Pretendeu-se, com esta investigação identificar o nível de conhecimentos, fontes de informação, opiniões e comportamentos referidos, dos alunos da Universidade do Minho, face à SIDA e identificar diferenças entre os alunos de cursos da área de "biologia/saúde" com os de outras áreas de ensino.
O estudo foi concebido como um estudo descritivo, transversal, com recolha de dados extensivos a uma amostra da população universitária da Universidade do Minho e da Escola Superior de Enfermagem Calouste Gulbenkian, através de um inquérito por questionário estruturado, com perguntas fechadas e abertas. O universo deste estudo é constituído pelos indivíduos inscritos nas 2 instituições de ensino superior, no ano lectivo 2002/2003, num total de 8829 alunos.
Destes, 1395 (15,8%) frequentam "cursos da área de biologia/saúde" e 7434 (84,2%) frequentam "outros cursos". Com base na população em estudo, foi planeada uma amostra de 312 indivíduos. O tamanho da amostra, baseou-se na proporção estimada de indivíduos que usam o preservativo (30%, ou 0,3), para uma precisão desejada de 0,05 (5%), com um nível de confiança de 95%, numa população finita.
Foi usada a selecção aleatória estratificada, contribuindo o estrato dos indivíduos que frequentam "cursos da área de Biologia/Saúde" com 15,8% (47) e os indivíduos que frequentam "outros cursos" com 84,2% (265). Com uma taxa de respondentes de 78%, constatam-se diferenças entre os indivíduos do estrato "saúde" e "não-saúde". Verifica-se que a fonte de informação mais importante é a imprensa e tv, seguida dos colegas e amigos e dos professores; os indivíduos consideram-se com "bons" conhecimentos e que a divulgação da Informação sobre SIDA deve ser feita pelos serviços de saúde.
Há diferença de "nível de conhecimentos sobre SIDA" entre os indivíduos de cursos do estrato "saúde" e do estrato "não-saúde" (p=0,006), sendo maior nos primeiros. Os alunos da Universidade do Minho têm baixa "percepção de vulnerabilidade" face à SIDA, sendo um pouco maior nos indivíduos dos cursos do estrato de "saúde" (p=0,000).
Constata-se que a dificuldade para impor o uso do preservativo é maior nos indivíduos do estrato "não-saúde" (p=0,000). A maioria dos indivíduos responde "não ter vergonha de comprar preservativos", mas enquanto 80% dos indivíduos do sexo masculino pensam assim, 53% dos indivíduos do sexo feminino pensam de forma contrária; 90,7% responderam estar disponíveis para realizar o teste de SIDA, apesar de apenas 45% conhecerem um local de realização do teste da SIDA (mais no estrato "saúde" do que no estrato "não-saúde"); 63,4% consideram que os seus conhecimentos sobre SIDA condicionaram uma alteração de comportamentos e práticas sexuais; 15,9% assumem ter tido comportamentos de risco não sexuais e 17,8% tiveram mais de um companheiro sexual, no último ano (destes, 18,4% referem ter tido encontros sexuais casuais). 25,9% referem ter tido relações sexuais sob o efeito de álcool e 5,7% sob o efeito de drogas; dos que tiveram qualquer um destes comportamentos, 76,6% referem não ter usado preservativo. Parece evidenciar-se a hipótese das diferenças verificadas serem devidas à qualidade da informação sobre SIDA transmitida previamente aos estudantes universitários.
Palavras-chave: SIDA, universitários, comportamentos, conhecimentos, questionário, Braga, Universidade do Minho, saúde pública
Contacto com o autor: mariofreitas@ecsaude.uminho.pt
© Mário Morais Freitas, 2005