Comparação do poder imunogénico das vacinas anti-sarampo Edmonston-Zagreb e AIK-C em crianças vacinadas aos nove meses de idade:  estudo experimental

Estudo original publicado na Revista Portuguesa de Clínica Geral (1996; 13:195-212)

Resumo

 O sarampo continua a ser uma causa importante de morbilidade e mortalidade em todo o mundo. Em Macau, apesar do aumento considerável da cobertura vacinal verificado nos últimos anos, aquela doença continua a ocorrer esporadicamente e sob a forma de surtos epidémicos.

Procurando obter informação que servisse de base à decisão de manter ou alterar o programa de primovacinação anti-sarampo, relativamente à estirpe vacinal, a direcção dos Serviços de Saúde de Macau considerou pertinente a realização de um estudo de imunidade, comparando-se simultaneamente o poder imunogénico das estirpes Edmonston-Zagreb (atenuada em células diplóides humanas – EZ-HDC), e America-Iran-Kitasato (atenuada em células embrionárias de pinto – AIK-C), na população chinesa com menos de um ano de idade.

Para avaliar a resposta imunitária àquelas vacinas efectuou-se um estudo experimental (ensaio profilático de intervenção comunitária), duplo cego, aleatório e multicêntrico, numa amostra de 400 crianças vacinadas aos nove meses de idade. Determinou-se também a proporção daquelas crianças que, à data da vacinação, não apresentavam anticorpos anti-sarampo.

O nível de anticorpos pré e pós-vacinais foi determinado através do método alfa do Enzyme Linked Immuno Sorbent Assay (ELISA), depois de recolhidas duas amostras de sangue, uma imediatamente antes da administração da vacina e outra três meses depois.

Aos nove meses de idade, pelo menos 98% das crianças eram vulneráveis ao sarampo. Para os seronegativos pré-vacinais, as taxas de seroconversão foram de 92.1% com a vacina EZ-HDC e de 98% com a vacina AIK-C, e o nível médio de anticorpos pós-vacinais foi significativamente superior no grupo vacinado com AIK-C (P<0.001). Não se encontrou qualquer correlação entre o poder imunogénico das vacinas e o nível pré-vacinal de anticorpos (P>0.05). As duas vacinas em comparação são muito seguras pois, além dos habituais sinais cardinais de Celso (muito ligeiros e com prevalência idêntica nos dois grupos), não foram observados ou referidos outros efeitos colaterais com elas relacionados.

A vacina AIK-C administrada em Macau aos nove meses de idade é muito segura e apresenta uma elevada eficácia serológica. Porém, uma vez que o sarampo é endémico, e como à data da vacinação a maior parte das crianças já não apresentam anticorpos maternos, os responsáveis pela política vacinal do Território devem considerar a possibilidade da sua administração mais precoce, com vista a aumentar-se a protecção individual e a viabilizar-se a imunidade de grupo.

Palavras-chave: sarampo; vacina anti-sarampo; imunidade; ELISA α-método

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© Fernando Costa Silva, 2005