Estados hipertensivos da gravidez: caracterização da hipertensão arterial e avaliação da qualidade do registo de acompanhamento das grávidas na consulta de gravidez de alto risco do Centro Hospitalar Conde de S. Januário (Macau)

Estudo original publicado na Revista Portuguesa de Clínica Geral (1996; 13:183-194)

Resumo

A hipertensão arterial é uma complicação frequente da gravidez, com riscos para a mãe e para o feto. Pretendendo determinar-se a sua prevalência na consulta de gravidez de alto risco do Centro Hospitalar Conde S. Januário, efectuou-se um estudo descritivo transversal (10 meses) englobando a totalidade de grávidas com hipertensão arterial. Avaliou-se a qualidade do registo de acompanhamento da gestação nos Cuidados de Saúde Primários e Secundários e quantificaram-se alguns aspectos relativos à morbi-mortalidade perinatal, materna e fetal.

Do universo de mulheres inscritas naquela consulta, 8 (8/39) apresentaram hipertensão arterial. De acordo com os critérios de classificação utilizados no estudo, houve 2 (2/8) doentes com pré-eclampsia ligeira, 2 (2/8) com pré-eclampsia moderada e uma (1/8) com pré-eclampsia grave. A hipertensão arterial induzida pela gravidez ocorreu em 4 (4/5) nulíparas. Exceptuando um parto ocorrido às trinta e duas semanas de gestação e outro ocorrido em local desconhecido, os restantes 6 (6/7) foram de termo. Do total de partos, 4 (4/7) foram por cesariana. Todos os recém-nascidos de termo apresentaram peso adequado para o tempo de gestação (entre 2800 e 3600 gramas) e só o recém-nascido de pré-termo (1/7) necessitou de reanimação profunda.

A ausência de mortalidade materna e fetal e a quase inexistência de complicações no recém-nascido podem, eventualmente, ser justificadas pela vigilância contínua e orientação adequada das grávidas incluídas no estudo, bem como pelos cuidados neonatais dispensados após a retirada do feto ao ambiente hostil do útero materno. Contudo, o início tardio das consultas de vigilância pré-natal, o reduzido número de grávidas na consulta de gravidez de alto risco e o deficiente registo de informação, fazem pensar na necessidade de uma maior intervenção dos serviços de saúde, mormente no que respeita à informação e educação da grávida e à motivação e responsabilização profissional, nomeadamente dos médicos obstetras.

Palavras-chave: avaliação de qualidade; estados hipertensivos da gravidez; gravidez de alto risco; hipertensão arterial na gravidez

Contacto com o autor: SaudePublica@netcabo.pt

© Fernando Costa Silva, 2005