Higiene Alimentar
Código de Boas Práticas Boas Práticas de Higiene e boas Práticas de Fabrico |
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Cláudia Isabel Silva
Estagiária da licenciatura em Engenharia Alimentar, da Escola Superior de
Tecnologia e Gestão, do Instituto Politécnico de Viana do Castelo.
Documento elaborado no âmbito do estágio efectuado na
Unidade Operativa de Saúde Pública de Braga (2006)
1. Objectivos e campos de aplicação 2. Definições 3.1 Regras gerais 3.1.1 Lavagem de mãos, unhas e braços 3.1.2 Uso de adornos 3.1.3 Roupas, protecção de cabelos e sapatos 3.1.4 Protecção das mãos 3.1.5 Manipulação de produtos de limpeza, tóxicos ou perigosos 3.1.6 Comer, mascar e beber 3.1.7 Proibição de cuspir e fumar 3.1.8 Tosse, espirro, limpeza do nariz e uso de lenços 3.2 Feridas, golpes e uso de pensos 3.3 Doenças e acompanhamento médico 3.4 Conduta pessoal 3.5 Primeiros socorros 3.6 Visitantes e chefias 3.7 Acolhimento e formação profissional 4. Higiene e segurança das instalações 4.1 Regras gerais 4.2 Características especificas 4.2.1 Zonas exteriores próximas da unidade 4.2.2 Edifícios, tectos, pavimentos, paredes, portas, janelas e escadas 4.3 Ventiladores, tubagens, depósitos de água e esgotos 4.4 Iluminação, protecção de lâmpadas e electrocussão de insectos 4.5 Instalações sanitárias e vestiários 4.6 Armazéns e instalações frigorificas 4.7 Meios de transporte internos e externos 4.8 Zona de lavagem de mãos 4.9 Circulação de pessoas 4.10 Lixos e pragas 4.11 Prevenção de incêndios |
5. Higiene e segurança dos equipamentos, ferramentas e superfícies de trabalho 5.1 Layout 5.2 Equipamentos 5.3 Ferramentas e utensílios 5.4 Superfícies de trabalho 5.5 Manutenção 6. Higiene e segurança dos processos 6.1 Regras gerais 6.2 Água 6.3 Ar 6.4 Descongelação 6.5 Condimentos 6.6 Óleo de fritura 6.7 Condições de armazenamento 6.8 Importância do tempo/temperatura de confecção e armazenamento 7.1 Regras gerais 7.2 Produtos 7.2.1 Detergente 7.2.2 Desinfectante 7.3 Ficha da limpeza 7.4 Verificação 7.5 Frequência da limpeza e desinfecção Bibliografia Anexos |
1. Objectivos e Campos de Aplicação
As doenças alimentares constituem uma das principais preocupações ao nível da Saúde Pública, principalmente nos grupos mais vulneráveis como crianças e idosos. A maioria dos microrganismos levam ao aparecimento de toxinfecções alimentares quando ingeridos em grande número ou quando as suas toxinas estão presentes nos alimentos. Contudo, os alimentos não costumam apresentar alterações no seu cheiro, sabor ou aspecto.
Então, qual a necessidade de implementar um código de boas práticas?
A maioria das toxinfecções alimentares tem a sua origem em superfícies, utensílios de cozinha e mãos contaminadas e na contaminação cruzada, em particular de alimentos já cozinhados e prontos para consumo com alimentos crus.
As pessoas que de alguma forma contactam com os alimentos nas diversas fases da sua produção, são portadores de microrganismos que podem contaminar os alimentos e provocar doenças a quem os consome. Os microrganismos estão presentes, vivem e desenvolvem-se em diversas partes do corpo (cabelo, nariz, boca, garganta, intestinos, pele, mãos e unhas) e mesmo que a pessoa apresente um estado de saúde normal, sem sintomas de qualquer doença, existem sempre no seu corpo microrganismos que se forem ingeridos podem provocar doenças.
Os manipuladores de alimentos devem entender a higiene como uma forma de proteger a sua saúde e a dos consumidores, assim como os comportamentos adoptados durante a manipulação, pois são um dos principais veículos de contaminação dos alimentos.
Uma boa higiene e um comportamento adequado evitam a contaminação dos alimentos a nível biológico (ex.: microrganismos), químico (ex.: detergentes), e físico (ex.: cabelos).
Um código de boas práticas bem implementado evita a ocorrência dos riscos associados à produção e confecção de produtos alimentares. Esse código deverá ser adoptado por todas as pessoas que se encontram na unidade, principalmente pelos manipuladores de alimentos.
É possível dividir as questões da higiene em quatro áreas:
Higiene pessoal;
Higiene e segurança das instalações;
Higiene e segurança dos equipamentos, ferramentas e superfícies de trabalho;
Higiene e segurança dos processos.
Segundo o Codex Alimentarius o conceito de perigo alimentar é qualquer propriedade biológica, física ou química, que possa tornar um alimento prejudicial para consumo humano.
Perigos
biológicos - o maior risco à inocuidade do alimento. Neste perigo
englobam-se as bactérias, fungos, vírus, parasitas e toxinas microbianas. Estes
organismos vivem e desenvolvem-se nos manipuladores e podem ser transmitidos aos
alimentos pelos mesmos. Outros ocorrem naturalmente no ambiente onde os
alimentos são produzidos. A maior parte é destruída por processamentos térmicos
e muitos podem ser controlados por praticas adequadas de armazenamento e
manipulação, boas práticas de higiene e fabrico, controlo adequado do tempo e
temperatura de confecção. A dose mínima
infectante de microrganismos possível de causar doença varia de pessoa para
pessoa, e depende do seu estado imunológico, idade, estado nutricional,
entre outros. É necessário ter especial consideração pela existência de grupos
especiais de risco como crianças, idosos, mulheres grávidas e indivíduos imunodeprimidos.
Perigos
químicos - conjunto de perigos de origem diversa, desde aqueles
que se encontram associados às características das próprias matérias-primas, até
aos criados ou introduzidos durante o processo. Por perigos químicos entendem-se
os aditivos alimentares (usados em concentrações excessivas); os pesticidas;
medicamentos veterinários; metais pesados; toxinas naturais (ex.: cogumelos,
peixes exóticos, marisco); alergenos (ex.: glúten, lactose); substâncias
naturais vegetais (ex.: solanina da batata); químicos criados pelo processo ou
introduzidos no processo (ex.: produtos de limpeza e desinfecção).
Perigos físicos
-
vasto conjunto de perigos, de origem diversa. Desde objectos presentes em
matérias-primas até objectos que podem ser introduzidos nos produtos alimentares
pelos processos a que estão sujeitos, ou pelos próprios manipuladores. Estes perigos
podem provir dos materiais de embalagem e acondicionamento das matérias-primas,
de produtos em curso ou produtos acabados; equipamentos e utensílios; e dos
próprios manipuladores. Os perigos
físicos mais frequentes são: vidros, madeiras, metais, pedras, materiais de
revestimento ou isolamento, plásticos, objectos de uso pessoal, ossos e
espinhas.
2. Definições
Código de boas práticas – Conjunto de boas práticas de modo a não comprometer a segurança ou inocuidade dos alimentos.
Contaminação – Presença não intencional de qualquer material estranho nos alimentos quer seja de origem química, física ou biológica que o torne inadequado para consumo.
Contaminação cruzada – Transferência de microrganismos de alimentos contaminados (normalmente não preparados) para os alimentos preparados pelo contacto directo, escorrimento ou contacto indirecto através de um veiculo como mãos, utensílios, equipamentos ou vestuário.
Higienização – Conjunto de actividades de limpeza e desinfecção.
Intoxicação – Enfermidade que resulta da ingestão de alimentos contendo uma determinada quantidade de microrganismos patogénicos capazes de produzir ou libertar toxinas após a ingestão.
Layout – Forma como se dispõe a sequência dos processos e equipamentos.
Lavagem das mãos – Remoção de sujidade, resíduos de alimentos, poeira, gordura ou outro material indesejável das mãos.
Manipuladores de alimentos – Todos aqueles que, pela sua actividade profissional, entram em contacto directo com alimentos, isto é, ao pessoal empregado na preparação e embalagem de produtos alimentares, na distribuição e venda de produtos não embalados e na preparação culinária de alimentos em estabelecimentos onde se confeccionam e servem refeições ao público em geral ou a colectividades, bem como aos responsáveis pelos referidos estabelecimentos
Marcha em frente – Circuito que os alimentos devem seguir, da zona mais suja para a mais limpa, de forma a que os alimentos prontos a servir não se cruzem com os alimentos que irão ser descascados, lavados, etc.
Medida preventiva – Acção realizada para evitar ou diminuir a ocorrência de um perigo.
Microrganismos – Seres muito pequenos, que só se conseguem ver ao microscópio, nos quais se incluem bactérias, bolores, vírus, leveduras e protozoários.
Microrganismos patogénicos – Microrganismos susceptíveis de causar doenças infecciosas.
Perigo – Qualquer propriedade biológica, química ou física de um alimento que possa causar um dano inaceitável para a saúde do consumidor.
Pragas – Qualquer animal capaz de, directa ou indirectamente, contaminar os alimentos.
Risco – Possibilidade ou probabilidade de ocorrer um perigo.
Toxinas – Substâncias químicas produzidas por alguns microrganismos existentes nos alimentos, susceptíveis de se desenvolverem no alimento ou organismo após o consumo de alimentos contaminados.
Zona de perigo – Intervalo de temperatura entre os 5ºC e os 65ºC, no qual os microrganismos se desenvolvem rapidamente.
Cláudia Silva © Portal de Saúde Pública, 2007