Toxicodependências

Consumo na Comunidade

Desde 1986 têm-se efectuados estudos sobre os consumos na população escolar (alunos do 6º, 7º e 9º ano) e em 1995 foi efectuado um estudo (Projecto Europeu para o estudo do Álcool e outras substâncias em meio escolar; inquérito a alunos do secundário, Portugal 1995, Lisboa, GPCCD, 1997) entre os alunos do 10º, 11º e 12º anos com 16 anos de idade, no Continente.

No quadro seguinte comparam-se dados sobre as prevalências encontradas em 1995 relativamente aos consumos.

Consumos efectuados no último mês, em meio escolar - 1995

Droga

Alunos 7º, 8, 9º anos
Estudos em meio escolar

Alunos 10º, 11º, 12º anos
Estudo ESPAD

Álcool

31,1%

48,6 % (11% de "bebedeiras")

Tabaco

17,8%

23,6%

Cannabis

 1,4%

 3,2%

Heroína

 0,2%

 0,2%

Cocaína

 0,1%

 0,1%

Fonte: Tabela D e 19 in Projecto Europeu para o estudo do Álcool e outras substâncias em meio escolar; inquérito a alunos do secundário, Portugal 1995, Lisboa, GPCCD, 1997.

Na população universitária, num estudo efectuado recentemente (Torgal, J.; Mourão, V., Lisboa 1998), parece haver um maior consumo regular das drogas ilegais que nos alunos do Secundário: canabinóides (5,4% dos rapazes e 2% das raparigas), heroína e cocaína (4,5% em ambos os casos!!), ecstasy (4,6% para os rapazes e 2,3% para as raparigas).

Tendo em conta os dados da OMS para a primeira metade da década de 1990, Portugal é dos países onde menos se fuma tabaco (cerca de 25% dos adultos), havendo um declínio estável do número de homens consumidores que é mascarado por um forte aumento do número de mulheres consumidoras.

No entanto, relativamente ao álcool, Portugal é o 4º maior consumidor da União Europeia, estimando-se que cada português consumiu em média cerca de 11 litros de álcool puro no ano de 1993, o que é um exagero, considerando que o menor risco de mortalidade está em populações que consomem cerca de 2-3 litros por ano.

No entanto, a avaliar pela taxa de mortalidade padronizada de doenças crónicas do fígado e cirrose (indicador das repercussões negativas dos hábitos de consumo exagerado de álcool), a nossa situação é a pior da Europa, à frente da Itália (2º), Alemanha (3º) e Luxemburgo (4º), figurando a Espanha apenas em 5º lugar. Felizmente, o Algarve tem a menor taxa de mortalidade padronizada do País:

Região

Taxa padronizada (/105) em 1996

Portugal

21,8

Aveiro

24,8

Beja

23,6

Braga

26,1

Bragança

20,4

Castelo Branco

20,8

Coimbra

25,3

Évora

12,6

Faro

11,1

Guarda

27,7

Leiria

22,2

Lisboa

19,3

Portalegre

12,0

Porto

18,9

Santarém

22,8

Setúbal

17,6

Viana do Castelo

25,7

Vila Real

42,0

Viseu

30,7

Açores

32,8

Madeira

27,7

Fonte: Departamento de Estudos e Planeamento em Saúde, Ministério da Saúde

Tendo em conta a mortalidade por cirrose, calculou-se em 1995 a existência de cerca de 4% de dependentes do álcool em Portugal (Mello, M; et al. – Manual de Alcoologia para o clínico geral – Delagrange, Coimbra, 1998, p. 30).

Apenas no que diz respeito à heroína, apontamos os seguintes dados:

  • 0,8% das parturientes estudadas em 1991 na Maternidade Júlio Dinis (Porto) consumiam heroína (Flores, I: - Toxicodependência, epidemiologia e morbilidade e mortalidade neonatal e infantil - Toxicodependências, nº3, 1995, pp. 37-44.

  • Mais de 1,3% da população total do Algarve, tem um problema com a heroína, segundo estimativa baseada no número médio de utentes e a duração média da dependência à heroína nos CATs do Algarve entre 1988 e 1998 (Pina, A. - Toxicodependentes em tratamento no Algarve - Toxicodependências, Edição SPTT, Vol. 6, nº1, 2000, pp. 37-48);

  • 4% da população do concelho de Setúbal, entre 1995 e 1997, era heroinómana (Godinho, J.; Costa, H.; Padre-Santo, D. - "Estimativa da prevalência de consumidores de heroína no Concelho de Setúbal", in Toxicodependências, Vol. 4, Nº 3, 1998, pp. 27-32);

  • Portugal e a Suiça parecem ser os países onde há maior consumo de heroína da Europa Ocidental (Harkin, A.; Anderson, P.; Goos, C. – Smoking, drinking and drug taking in the European Region – WHO, Copenhagen, 1997, pp. 108), tendo-se estimado nos primeiros anos da década de 1990, cerca de 60.000 consumidores no nosso País (cerca de 0,6% da população);

  • Portugal é o único país da Europa Ocidental onde as apreensões de heroína superam as das outras drogas, com tendência a crescer em 1998 (European monitoring centre for drugs and drug addiction – 1999 Extended annual report on the state of drugs problem in the European Union – Luxembourg: Office for Official Publications of the European Communities, 1999).

  • Portugal é dos poucos países da Europa Ocidental onde tem havido um aumento recente das mortes relacionadas com a sobredosagem (inclui um aumento de 43% de 1997 para 1998 !!).

Ou seja, a maioria dos estudos faz crer que:

  • As drogas mais consumidas são de longe as legais: o álcool, o tabaco e os tranquilizantes.

  • Os derivados da cannabis (fundamentalmente o haxixe) são as drogas ilegais de maior consumo.

  • O consumo de heroína poderá afectar cerca de 1 % da população portuguesa (100.000 cidadãos).

  • O consumo de ecstasy tem vindo a crescer, como o demonstra o grande aumento de apreensões policiais desta droga de 1995 (77 comprimidos) para 1998 (1127 comprimidos).

António Paula Brito de Pina © Portal de Saúde Pública, 2000