Síndrome dos Edifícios Doentes
Síntese do Processo de Avaliação
Análise Sumária do Edifício Sede do "Centro de Saúde Y"
[ SED: síndroma dos edifícios doentes; ED: edifício doente ]
A avaliação do edifício sede do Centro de Saúde Y decorreu em três etapas, e foi efectuada pelo Serviço de Saúde Pública de ... e pelo Gabinete de Saúde Ambiental de ..., com a colaboração do Departamento de Instalações e Equipamentos de ....
A avaliação teve início a 28 de Janeiro e foi concluída a 18 de Março de 2002. Toda a informação coligida foi analisada pelos técnicos intervenientes no processo.
Metodologia
A metodologia utilizada alicerçou-se essencialmente na recolha de informação obtida através de:
Etapa 1:
elaboração de um modelo de inquérito individual, para aplicação aos casos eventualmente relacionáveis com o SED; e
análise das plantas do edifício, para determinação da existência de eventuais vias de contaminação.
Etapa 2:
observação “in loco” e caracterização sumária do estado de conservação e limpeza dos equipamentos de climatização (refrigeração e aquecimento) instalados no edifício;
observação “in loco” e caracterização sumária do estado de higiene geral do interior do edifício; e
aplicação de inquérito por questionário a todos os casos que apresentaram sinais e/ou sintomas eventualmente relacionáveis com o SED.
Etapa 3:
contacto com o departamento de instalações e equipamentos, para esclarecimento de alguns pormenores técnicos sobre o funcionamento do sistema de climatização, incluindo o processo de renovação de ar; e
análise da informação disponível, estabelecimento de conclusões e elaboração de recomendações, com o propósito de se atenuarem alguns dos factores que podem ser relacionados com o SED.
Não se recorreu a outras entidades ou meios para o estudo de eventuais contaminantes biológicos ou químicos, externos ou originados no interior do edifício, uma vez que os padrões temporal e espacial da maior parte dos sinais e sintomas referidos pelos inquiridos, bem como a informação adicional recolhida, não sugeriram a existência de um SED relacionado com o edifício sede do centro de saúde.
Conclusão
Após ponderação da informação disponível, e independentemente do que se referiu no parágrafo anterior, encontraram-se algumas situações passíveis de contribuir para o aparecimento dos sinais e sintomas apresentados pelos trabalhadores, e que devem ser corrigidas.
No que se refere à compartimentação do edifício e ao modo de funcionamento dos equipamentos de climatização (ar condicionado com refrigeração e aquecimento), obteve-se a informação de que o sistema instalado funciona por permuta de calor, não existindo troca de fluidos entre o equipamento e o meio envolvente, e com os diferentes compartimentos do edifício. Foi ainda obtida a informação que os aparelhos de ar condicionado existentes não estão equipados com qualquer tipo de sistema mecânico de renovação de ar, facto que, só por si, pode ser facilitador da existência de um ED.
A ventilação e renovação do ar no corredor central e nas diversas salas de consulta e tratamento, afigurou-se insuficiente durante os períodos de maior afluxo de utentes (constatação “ad hoc”), e nestes, sobretudo durante o período de funcionamento do sistema de aquecimento. Em diversas ocasiões, foi possível confirmar a insuficiência de meios facilitadores da ventilação natural, como por exemplo a renovação de ar através da abertura de portas ou janelas que comunicassem directamente com o exterior. Uma vez que o sistema de refrigeração/aquecimento do edifício não permite a renovação de ar, a ventilação natural através da abertura de portas e janelas deve considerar-se essencial para a desejável renovação do ar interior.
As deficiências no estado de limpeza geral no interior da maior parte dos compartimentos e corredores do edifício, incluindo as instalações sanitárias (trabalhadores e doentes), eram evidentes e quase constantes. A limpeza deficiente do equipamento de ar condicionado também foi uma constatação, existindo alguns aparelhos desconjuntados e com uma exagerada acumulação de sujidade (por exemplo, na sala de tratamentos).
Resumidamente, os principais problemas encontrados foram:
ventilação/renovação de ar deficiente, devido à inexistência de um sistema mecânico de renovação de ar durante os períodos de funcionamento do equipamento de ar condicionado (refrigeração e aquecimento), situação agravada pela insuficiência de meios de ventilação natural (abertura de portas e janelas);
limpeza/higiene geral deficiente no interior do edifício (salas de consulta e de tratamento, corredores, instalações sanitárias, etc.); e
limpeza deficiente dos aparelhos de ar condicionado existentes.
Recomendações
Considerando as conclusões mencionadas no capítulo anterior, devem considerar-se pertinentes as seguintes correcções, a efectuar a curto prazo:
assegurar a ventilação natural adequada em todos os compartimentos, enquanto não for instalado um sistema mecânico de renovação de ar, nomeadamente através da abertura de portas e janelas, pelo menos nos períodos de maior afluência de utentes e durante as tarefas de limpeza do centro de saúde;
melhorar o estado de limpeza geral em todos os compartimentos do edifício (salas de consulta e de tratamento, corredores, instalações sanitárias, etc.); e
melhorar o estado de limpeza dos aparelhos de ar condicionado existentes, e garantir a sua manutenção cuidada.
Deve ainda ser considerada a necessidade de instalação de um sistema mecânico eficaz para a renovação do ar interior, durante os períodos de funcionamento do equipamento de ar condicionado.
Fernando Costa Silva © Portal de Saúde Pública, 2005