Portal de Saúde Pública |
Vacinação − Programa Nacional de Vacinação
A vacinação é uma forma de fortalecer o organismo contra determinadas infecções. Os seus princípios empíricos já são conhecidos há muito tempo, embora só recentemente tenham sido utilizados de forma moderna e massiva. Constitui uma das maiores vitórias da medicina, e muitos de nós não estaríamos vivos se não fosse a vacinação.
Em Portugal, administram-se vacinas desde o início do século XIX, designadamente a anti-variólica, mas foi apenas a partir de 1965, com a criação do Programa Nacional de Vacinação (PNV) que os ganhos em saúde foram significativos. No final desse ano iniciou-se a vacinação em massa contra a poliomielite, registando-se então 292 casos da doença; no ano seguinte registaram-se apenas 13 casos, o que traduz uma redução de 96%! Em 1966 efectuou-se a vacinação em massa das crianças contra a difteria e a tosse convulsa, registando-se nesse ano 1010 casos de difteria e 973 casos de tosse convulsa; no ano seguinte, após a vacinação, registaram-se apenas 479 casos da primeira doença e 493 da segunda, ou seja, uma redução de 50%!
Outra vitória enorme da vacinação, ainda mais espectacular a nível mundial, foi a erradicação da varíola. Esta doença, que durante muitos séculos matou milhões de pessoas, foi considerada eliminada em 1978 e erradicada em 1980; o último caso de doença ocorreu na Etiópia em 1977.
Desde 1965, em Portugal foram vacinados mais de sete milhões de crianças e vários milhões de adultos através do PNV, que é universal e gratuito. As doenças abrangidas estão eliminadas ou controladas, tendo-se evitado milhares de casos de doença e centenas de mortes, sobretudo em crianças, que teriam ocorrido na ausência de vacinação. As vacinas incluídas no PNV são muito importantes para a Saúde Pública e permitem combater as seguintes doenças:
Doença invasiva por Neisseria meningitidis C (meningite C)
Papeira (trasorelho ou parotidite epidémica)
Papiloma humano (desde Outubro de 2008)
Poliomielite (paralisia infantil)
Tosse convulsa (coqueluche ou pertussis)
Embora as vacinas sejam administradas sobretudo em crianças e adolescentes, os adultos devem ter actualizadas as suas vacinações contra a hepatite B (principalmente de tiverem comportamentos de risco, como toxicomania, promiscuidade sexual, etc.) e contra a difteria e o tétano (reforços de 10 em 10 anos).
Resumidamente, referem-se alguns aspectos particulares de cada vacina:
Vacina contra a
tuberculose (BCG). Administra-se
sob a pele do braço (intra-dérmica) e, embora não seja muito eficaz na prevenção da tuberculose
pulmonar, é muito eficaz na prevenção de tuberculoses disseminadas por outros
órgãos
(que são as mais graves), tendo também efeito na prevenção da lepra, de alguns cancros
e
leucemias.
Vacina contra a
hepatite B (VAHB). Administra-se no ombro
(intra-muscular) e é muito eficaz na prevenção desta doença, que tem
vindo a aumentar em todo o Mundo, sobretudo após a adolescência, devido à
promiscuidade sexual, à toxicomania, etc.
Vacinas contra a
difteria, o
tétano e a
tosse convulsa (DTP/DT/Td/VAT).
Para estas doenças existem vacinas trivalentes (com os 3 componentes - DTP),
bivalentes (com dois componentes, por exemplo difteria e tétano - DT ou Td) e
monovalentes (com um componente, por exemplo tétano - VAT). Estas vacinas são administradas no braço ou na coxa
(intra-muscular) e permitem evitar aquelas doenças ou, pelo menos, diminuir a gravidade dos seus sintomas e complicações.
A
difteria é uma doença muito contagiosa
e grave, por vezes mortal; é mais frequente em crianças e afecta primeiro a
garganta e o nariz, depois o coração e o sistema nervoso.
A
tosse convulsa
(coqueluche ou
pertussis) é uma doença essencialmente infantil que se manifesta através de
acessos de tosse constantes e muito intensos; embora seja menos grave que a
anterior também pode ser mortal, sobretudo quando contraída por crianças debilitadas,
por exemplo, crianças com má nutrição.
O
tétano é outra doença muito grave, frequentemente
mortal, que pode atingir qualquer pessoa em qualquer idade. Como os recém-nascidos
também podem ser infectados, todas as mulheres grávidas devem estar
correctamente vacinadas contra
esta doença.
Vacina contra as
doenças provocadas pelo
Haemophilus influenzae serotipo b
(Hib). Deve ser administrada na coxa (intra-muscular), e permite evitar
algumas meningites, pneumonias, otites e doenças graves da garganta,
especialmente nas crianças.
Vacina contra as
doenças provocadas pela
Neisseria
meningitidis serotipo C
(MenC). Permite evitar infecções pelo meningococo C. Deve ser administrada
na coxa, por via intra-muscular.
Vacina contra a
poliomielite (VAP/VIP). É uma vacina muito eficaz
e pode contribuir para a erradicação/desaparecimento da doença. A poliomielite,
ou "paralisia infantil", era muito frequente e
provocava, principalmente nas crianças, paralisia dos membros inferiores,
podendo, nos casos mais
graves originar a morte por paralisia dos músculos respiratórios.
Vacina contra o
sarampo, a
papeira e a
rubéola (VASPR/VAR/VAS). Para
estas doenças existem vacinas trivalentes (contra os 3 vírus - VASPR),
bivalentes (por exemplo, contra o sarampo e a rubéola - VASR) e monovalentes
(por exemplo, contra o sarampo - VAS). No PNV administra-se a vacina
trivalente, ou tríplice (VASPR - vacina conjunta contra as 3 doenças), que é
aplicada no braço, numa só injecção sub-cutânea. É uma vacina muito eficaz e
importante para o controlo e erradicação das doenças alvo, permitindo também
reduzir a gravidade dos seus sintomas e complicações.
O
sarampo pode originar pneumonias graves,
por vezes mortais, nas crianças mais pequenas, bem como doenças neurológicas
graves e mortais em adolescentes e adultos.
A
papeira ou parotidite epidémica pode
originar meningites, causar doenças dos testículos nos rapazes, e doenças
dos ovários nas raparigas.
A
rubéola pode causar defeitos congénitos graves nos
recém nascidos de mães não vacinadas (infectadas durante a gravidez).
Em
Janeiro de 2006
foi incluída no PNV uma vacina contra a doença invasiva por
Neisseria meningitidis do serogrupo C −
Meningite C
(MenC) −
e a
vacina oral contra a poliomielite (vírus vivo atenuado) foi substituída pela
vacina injectável (vírus inactivado). A vacina de "célula
completa" contra a tosse convulsa (DTP) foi substituída pela vacina "acelular"
(DTPa), que origina menos efeitos
colaterais. O novo PNV inclui ainda duas vacinas tetravalentes (DTPaHib
e DTPaVIP) e uma vacina pentavalente
(DTPaHibVIP), que permitem reduzir o
número total de inoculações ("injecções"). Além de protegerem contra
doenças como a difteria, o tétano e a tosse convulsa, a vacina DTPaHib
confere imunidade contra o Haemophilus influenzae b, e a vacina DTPaVIP
previne a poliomielite; a vacina DTPaHibVIP
confere imunidade contra as cinco doenças acabadas de referir.
Em Setembro de 2008 será incluída no PNV uma vacina contra infecções pelo Vírus
do Papiloma Humano (VPH). Esta vacina será aplicada a raparigas a partir dos 13
anos de idade.
Fora do âmbito
da gratuitidade do PNV existem outras vacinas
disponíveis em Portugal. Recomenda-se a administração da vacina contra a gripe − virus Influenzae
− a determinados grupos de risco (por
exemplo, idosos e crianças com problemas respiratórios crónicos); a aplicação
desta vacina deve ser anual, nos meses de Setembro ou Outubro (início do
Outono).
Todas as vacinas mencionadas têm muito poucas contra-indicações, podendo ser administradas durante tratamentos com antibióticos ou durante períodos de doença ligeira, como por exemplo constipações, más disposições, diarreia ou febre inferior a 38,5ºC. No quadro seguinte referem-se algumas situações que, erradamente, são consideradas contra-indicações à vacinação.
Quadro I – Falsas Contra-Indicações à Vacinação *
Doenças benignas com febre inferior a 38,5ºC, tais como diarreia e infecções respiratórias Doenças neurológicas não evolutivas, como a Síndrome de Down e a paralisia cerebral Doenças crónicas cardiovasculares, pulmonares, renais e hepáticas Dermatoses, eczemas ou infecções cutâneas localizadas Reacções localizadas, ligeiras ou moderadas, após a inoculação de um antigénio Terapêutica com antibióticos, corticosteróides (até 20 mg por dia) e esteróides tópicos Antecedentes familiares e pessoais de alergia à penicilina, rinite alérgica, febre dos fenos, asma e outras manifestações atópicas História familiar de complicações e reacções graves pós-vacinais História familiar de síndroma da morte súbita infantil Antecedentes familiares de convulsões Períodos de convalescença das doenças Períodos de incubação de doenças infecciosas Gravidez da mãe ou de outros contactos Prematuridade e baixo peso ao nascer História de icterícia neonatal Aleitamento materno Malnutrição Gravidez (para as vacinas inactivadas) |
*: As vacinas do PNV podem ser administradas sempre que se verificarem estas situações
Pelo que se referiu, toda a população deve ser correctamente vacinada desde o nascimento, sobretudo as crianças e os adolescentes.
Os quadros seguintes foram elaborados de acordo com a Circular Normativa nº 08/DT, de 21/12/2005, da Direcção-Geral da Saúde (Programa Nacional de Vacinação 2006 - Orientações Técnicas nº 10).
Quadro II − PNV: Esquema Cronológico de Vacinação Recomendado
Idade Vacina |
0-7 dias |
2 meses |
3 meses |
4 meses |
5 meses |
6 meses |
15 meses |
18 meses |
5-6 anos |
10-13 anos |
Toda a vida |
Tuberculose |
BCG 1 |
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
Hepatite B |
VHB 1 |
VHB 2 |
|
|
|
VHB 3 |
|
|
|
VHB a (1-2-3) |
|
Poliomielite |
|
VIP 1 |
|
VIP 2 |
|
VIP 3 |
|
|
VIP 4 |
|
|
Difteria, Tétano e Tosse convulsa |
|
DTP 1 |
|
DTP 2 |
|
DTP 3 |
|
DTP 4 |
DTP 5 |
|
|
Haemophilus influenzae b |
|
Hib 1 |
|
Hib 2 |
|
Hib 3 |
|
Hib 4 |
|
|
|
Meningococo C |
|
|
MenC 1 |
|
MenC 2 |
|
MenC 3 |
|
|
|
|
Papiloma humano |
VPH c (1-2-3) |
||||||||||
Sarampo, Rubéola e Papeira |
|
|
|
|
|
|
VASPR 1 |
|
VASPR b 2 |
|
|
Tétano e Difteria |
|
|
|
|
|
|
|
|
|
Td |
Td (10-10 anos) |
(a) Só para os nascidos até 1999 (esquema de vacinação: 0, 1 e 6 meses) (b) Nos nascidos em 1993 a VASPR-2 deve ser administrada aos 13 anos
(c) Em 2009-2011 serão vacinadas as coortes de raparigas que atinjam 17 anos (nascidas em 1992-1994)
As crianças até aos 7 de idade que não foram vacinadas segundo a cronologia recomendada, devem ser vacinadas de acordo com o esquema descrito no quadro seguinte.
Quadro III − Esquema de Vacinação Tardio: Crianças com Menos de 7 Anos
Idade/Visita Vacina |
1ª visita |
1 mês depois da 1ª visita |
3 dias depois da visita anterior |
2 meses depois da 1ª visita |
8 meses depois da 1ª visita |
5-6 anos |
Tuberculose |
|
P. tuberculínica a |
BCG 1 a |
|
|
|
Hepatite B |
VHB 1 |
VHB 2 |
|
|
VHB 3 |
|
Poliomielite |
VIP 1 |
VIP 2 |
|
VIP 3 |
|
VIP 4 b |
Difteria, Tétano e Tosse convulsa |
DTP 1 |
DTP 2 |
|
DTP 3 |
DTP 4 |
DTP 5 c |
Haemophilus influenzae b |
Hib 1 d |
Ver Quadro IV |
||||
Meningococo C |
MenC 1 |
Ver Quadro IV |
||||
Sarampo, Rubéola e Papeira |
VASPR 1 |
|
|
|
|
VASPR 2 e |
(a) A prova tuberculínica deve ser efectuada na 2ª visita (1 mês após a 1ª visita), às crianças sem registo de BCG e sem cicatriz vacinal. Na 3ª visita (72 horas após a 2ª visita) administra-se uma dose única de BCG às crianças cuja prova foi negativa (as positivas não devem ser vacinadas).
(b) A VIP-4 administra-se só a crianças vacinadas com VIP-3 antes dos 4 anos. O intervalo entre as administrações de VIP-3 e VIP-4 não deve ser inferior a 4 semanas.
(c) A vacina DTP-5 administra-se só a crianças vacinadas com DTP-4 antes dos 4 anos. O intervalo recomendado entre as administrações de DTP-4 e DTP-5 é de 3 anos. Depois dos 6 anos de idade administra-se a vacina Td.
(d) A vacina Hib deve ser administrada a crianças até aos 5 anos de idade.
(e) O intervalo entre as administrações de VASPR-1 e VASPR-2 não deve ser inferior a 4 semanas.
Quadro IV − Esquema de Vacinação com Hib e MenC
Hib – Haemophilus influenzae b |
||
Idade de início da vacinação |
Primovacinação - Nº de inoculações |
Idade do reforço vacinal |
Entre as 6 semanas e os 6 meses |
3 a |
18 meses |
Entre os 7 e os 11 meses |
2 a |
18 meses |
Entre os 12 e os 15 meses |
1 |
18 meses |
Entre os 16 meses e os 5 anos |
1 |
--- |
|
|
|
MenC – Neisseria meningitidis C |
||
Idade de início da vacinação |
Nº de inoculações até aos 12 meses |
Nº de inoculações depois dos 12 meses |
Entre os 2 e os 9 meses |
2 b |
1 (aos 15 meses) |
Dos 10 aos 11 meses |
1 |
1 b |
A partir dos 12 meses |
-- |
1 (na 1ª visita) |
(a) O intervalo recomendado para a administração das doses é de 8 semanas. Entre Hib-1 e Hib-2, e entre Hib-2 e Hib-3 os intervalos não devem ser inferiores a 4 semanas. Entre Hib-3 e Hib-4 o intervalo deve ser de 8 semanas.
(b) O intervalo recomendado para a administração das doses é de 8 semanas (nunca devem ser inferiores a 4 semanas).
As crianças e adolescentes entre os 7 e os 18 anos de idade que não foram vacinados segundo a cronologia recomendada, devem ser vacinados de acordo com o esquema descrito no quadro seguinte.
Quadro V − Esquema de Vacinação Tardio: Crianças e Adolescentes dos 7 aos 18 Anos
Idade/Visita Vacina |
1ª visita |
1 mês depois da 1ª visita |
3 dias depois da visita anterior |
7 meses depois da 1ª visita |
10-13 anos |
Toda a vida (10-10 anos) |
Tuberculose |
|
P. tuberculínica a |
BCG 1 a |
|
|
|
Hepatite B |
VHB 1 |
VHB 2 |
|
VHB 3 |
||
Poliomielite |
VIP 1 |
VIP 2 |
|
VIP 3 |
|
|
Difteria e Tétano |
Td 1 |
Td 2 |
|
Td 3 b |
Td 4 b |
Td 5 |
Meningococo C |
MenC 1 |
|||||
Sarampo, Rubéola e Papeira |
VASPR 1 |
VASPR 2 c |
|
|
(a) A prova tuberculínica deve ser efectuada na 2ª visita (1 mês após a 1ª visita), às crianças e adolescentes sem registo de BCG e sem cicatriz vacinal. Na 3ª visita (72 horas após a 2ª visita) administra-se uma dose única de BCG às crianças e adolescentes cuja prova foi negativa (as positivas não devem ser vacinadas).
(b) O intervalo mínimo recomendado entre as administrações de Td-3 e Td-4 é de 3 anos. Os reforços de Td devem ser administrados de 10 em 10 anos, durante toda a vida.
(c) Nas crianças já vacinadas com BCG, a VASPR-2 pode ser administrada na 2ª visita (1 mês após a 1ª visita). As crianças sem BCG que necessitam de efectuar a prova tuberculínica, devem ser vacinadas com VASPR-2 no dia da leitura, ou seja, 3 dias (72 horas) depois da 2ª visita.
Para informações mais detalhadas sobre o PNV-2006 deve ser consultada a Circular Normativa nº 08/DT, de 21/12/2005, da Direcção-Geral da Saúde.
Consulte também a página do Programa de Vacinação de Macau para obter informações sobre:
precauções e
contra-indicações à vacinação
reacções pós-vacinais
aplicação correcta de
vacinas
conservação de vacinas
António Paula Brito de Pina (1998)
Fernando Costa Silva (2006, 2008)