Hepatite Viral Aguda
(CID-10:
B15-B17)
Introdução clínica e
epidemiológica
É
uma doença aguda que apresenta geralmente um quadro clínico de icterícia, urina escura,
anorexia, mal estar geral, fadiga, desconforto abdominal
(sobretudo
no quadrante superior direito)
e aminotransferases séricas elevadas. A hepatite viral, como grupo nosológico, inclui
infecções específicas distintas, nomeadamente as originadas pelos vírus
A
(VHA, hepatite A),
B
(VHB, hepatite B),
C
(VHC, hepatite C),
Delta
(VHD,
hepatite D)
e
E
(VHE, hepatite E).
Hepatite A: o
período de incubação habitual é de 28-30 dias
(variação:
14-50 dias).
A transmissão ocorre sobretudo pela via fecal-oral, directamente ou através de água e
alimentos mal cozinhados. A infecção pode originar casos esporádicos de doença ou
epidemias, geralmente de fonte comum e relacionadas com a ingestão de água e alimentos
contaminados. O controlo do indivíduo infectado inclui precauções relativamente às
fezes e evicção escolar. Para o controlo dos contactos sublinha-se a importância da
vigilância, o consumo de água e alimentos não contaminados e o reforço das medidas de
higiene individual
(lavagem
das mãos após a utilização de sanitários, antes da manipulação e confecção de
alimentos, antes das refeições, etc.);
nos contactos domésticos e escolares
(companheiros
de carteira)
deve-se considerar ainda a administração de imunoglobulina inespecífica
(até
15 dias após a exposição).
Hepatite B: o
período de incubação habitual é de
60-90
dias
(variação:
45-180 dias).
A transmissão é essencialmente directa, por via percutânea
(hemática)
ou através das mucosas
(sexual
e perinatal);
mais raramente, pode ocorrer a inoculação indirecta do
VHB
através
de fómites contaminadas. O controlo dos doentes e portadores inclui precauções com o
sangue e relações sexuais
(uso
de preservativo ou abstinência),
até à cura ou vacinação dos parceiros com a vacina anti-hepatite B. Para o controlo
dos contactos não imunizados e com exposição sexual ou percutânea/mucosa ao sangue,
deve-se efectuar a administração de imunoglobulina específica seguida de vacinação.
Hepatite C: o
período de incubação habitual é de
40-60
dias
(variação:
14-180 dias).
A transmissão do
VHC
ocorre sobretudo através da exposição percutânea ao sangue e derivados plasmáticos
contaminados
(via
hemática).
O controlo dos doentes e portadores inclui precauções com o sangue e relações sexuais,
caso existam múltiplos parceiros
(uso
de preservativo).
Hepatite D: o
período de incubação habitual é
14-60
dias. O modo de transmissão do
VHD
é idêntico ao do
VHB,
nomeadamente no que se refere às transmissões hemática e sexual. A
hepatite D só ocorre associada à
hepatite B
(coinfecção
ou superinfecção).
Para o controlo dos indivíduos infectados e dos seus contactos preconizam-se medidas
idênticas às referidas para a hepatite B.
Hepatite E: o
período de incubação habitual é de
25-40
dias
(variação:
14-60 dias).
A transmissão do
VHE
ocorre
sobretudo através da ingestão de água contaminada, podendo também ocorrer directamente
através da via fecal-oral. Para o controlo dos indivíduos infectados e dos seus
contactos preconizam-se medidas idênticas às referidas para a
hepatite A.
Critérios laboratoriais de
diagnóstico
Hepatite A:
serologia positiva para os anticorpos IgM anti-VHA;
Hepatite B:
serologia positiva para
o antigénio
HBs,
e/ou
para os anticorpos IgM anti-VHBc
(core antigen);
Hepatite C:
serologia positiva para os anticorpos anti-VHC;
Hepatite D:
serologia positiva para
o antigénio
HBs
e anticorpos anti-VHD,
e/ou
para os
anticorpos
IgM anti-VHBc
e
anti-VHD;
Hepatite E:
serologia positiva para os anticorpos IgM anti-VHE,
com serologia negativa para os anticorpos IgM anti-VHA.
Classificação dos casos
Caso suspeito:
quadro clínico compatível
(ainda
sem confirmação laboratorial e não relacionado epidemiologicamente com um caso
confirmado).
Caso confirmado:
quadro clínico compatível, com confirmação laboratorial
(para
todos os tipos de infecção).
Para as hepatites A e
E, considera-se ainda
caso confirmado aquele que só
apresentar quadro clínico compatível
(sem
confirmação laboratorial),
mas que está epidemiologicamente relacionado com um ou mais casos confirmados
laboratorialmente.
Notas
Os diferentes tipos de hepatite viral aguda são
considerados
Doenças
de Declaração Obrigatória em Macau. Todos os casos suspeitos ou confirmados
devem ser prontamente notificados à autoridade sanitária pelos médicos clínicos e
laboratórios de análises. Os portadores assintomáticos do VHB
(portadores
crónicos)
também podem ser notificados.
A hepatite B é uma
doença evitável pela vacinação e a sua
prevenção primária alicerça-se essencialmente na imunização activa da população. O
PVM inclui a administração gratuita de
quatro doses da vacina específica a todos as crianças até aos doze anos de idade. De
acordo com calendário recomendado pelo
PVM,
a vacina deve ser administrada aos 0, 1 e 6 meses
(primovacinação),
e aos 5-6 anos de idade
(reforço).
A ocorrência das hepatites
A e
B
em instituições escolares implica a aplicação do
regime de
evicção escolar
(Decreto-Lei
n.º 1/97/M, de 20 de Janeiro).
Para os doentes com hepatite A, o período de
afastamento da instituição
(isolamento
profilático)
deve manter-se pelo menos durante sete dias após o início da doença ou até ao
desaparecimento da icterícia
(quando
presente).
Para a hepatite B, o período de isolamento
profilático dos casos agudos deve manter-se até à cura clínica; nos portadores
crónicos, com ou sem doença hepática activa, deve manter-se o afastamento da
instituição sempre que se verifiquem dermatoses exsudativas ou coagulopatias com
tradução clínica e em fase hemorrágica activa.