Poliomielite Aguda
(CID-10:
A80)
Introdução clínica e
epidemiológica
A infecção pelo vírus da poliomielite pode originar quadros clínicos diversos, por vezes semelhantes aos do síndrome de Guillan-Barré, nevrite traumática, mielite transversa, desequilíbrio hidro-electrolítico, mal de Pott, encefalite, meningite, etc.; sem apoio laboratorial adequado, o diagnóstico diferencial é impossível. Mais de 90% dos casos são infecções inaparentes (ausência de sinais e sintomas) e menos de 2% apresentam-se como doença paralítica; os casos de poliomielite abortiva representam 4-8% das infecções, e 1-2% apresentam um quadro clínico de meningite asséptica. Na poliomielite abortiva a ausência de paralisia é uma constante e o quadro clínico pode ser constituido por febre ligeira, faringite, vómitos, dor abdominal, mal estar geral e anorexia.
O
homem é o único reservatório do Enterovirus
da poliomielite
(tipos 1, 2 e 3).
Para os casos de doença paralítica o período
de incubação habitual é de 1-2 semanas
(variação:
3-35 dias).
A via de transmissão mais relevante é a fecal-oral directa, embora a vida aérea seja
relativamente importante, sobretudo em regiões com bom nível de saneamento; a
transmissão oral-oral é possível e a infecção também pode ser veiculada por água,
alimentos e fómites
(raramente).
O
controlo dos doentes deve considerar as seguintes medidas:
a)
isolamento com precauções entéricas, para os doentes hospitalizados, com
b)
desinfecção concomitante de fezes, secreções faríngeas e fómites contaminadas,
c)
medidas de suporte da vida,
d)
fisioterapia,
e)
terapêutica sintomática, e
f)
evicção escolar; as medidas referidas nas alíneas de
a)
a
c)
não se aplicam aos doentes que se encontram no domicílio. O controlo dos contactos
inclui:
a)
rastreio e vigilância activa de todos os casos de
paralisia
flácida aguda,
b)
actualização vacinal, para os contactos íntimos
(embora
a vacinação não tenha efeito protector imediato),
e
c)
evicção escolar.
Para
efeitos de vigilância epidemiológica, no âmbito do «Programa Territorial para a
Certificação da Erradicação da Poliomielite», a
definição
clínica de caso de polio inclui todos os casos de
paralisia
flácida aguda
(até 3 meses de duração),
de um ou mais membros, com ou sem alteração dos reflexos, e acompanhada ou não de
alterações sensoriais e cognitivas. Esta definição aplica-se a todos os grupos
etários, especialmente crianças e adolescentes até aos
15
anos
de idade.
Critérios laboratoriais de
diagnóstico
Isolamento de um ou mais vírus da poliomielite em duas amostras consecutivas de fezes, recolhidas com um intervalo mínimo de 48 horas.
Classificação dos casos
Caso provável:
doente com paralisia flácida aguda
(ver
definição clínica de caso de polio),
que aguarda confirmação laboratorial.
Caso confirmado:
a)
doente com sinais/sintomas compatíveis com a definição clínica de caso de
polio, com défice neurológico dois meses após o início dos sintomas iniciais,
que faleceu ou deixou de ser seguido
(follow-up), ou
b)
caso confirmado laboratorialmente.
Notas
A poliomielite aguda é uma
Doença de
Declaração Obrigatória em Macau. Os
casos prováveis ou
confirmados de poliomielite aguda, incluindo os
casos de paralisia
fácida aguda
(em
qualquer idade),
devem ser notificados à autoridade sanitária
ou à Unidade Técnica de Vigilância Epidemiológica dos Serviços de Saúde de Macau
(através do fax 533524),
pelos médicos clínicos e laboratórios de análises.
É uma
doença evitável pela vacinação e a sua
prevenção primária alicerça-se na vacinação precoce da população
(crianças
a partir dos dois meses de idade).
O PVM
inclui
três doses primovacinais e duas doses de reforço da vacina viva trivalente oral que, de
acordo com o seu calendário recomendado, devem ser administradas aos 2, 4, 6 e 18 meses,
e aos 5-6 anos de idade.
A ocorrência desta doença em instituições escolares
implica a aplicação do
regime de evicção escolar
(Decreto-Lei
n.º 1/97/M, de 20 de Janeiro).
Para os doentes e contactos, o período de afastamento da instituição educativa
(isolamento
profilático)
deve manter-se até à comprovação do desaparecimento dos
virus nas fezes
(vírus
selvagem).