Toxinfecção Alimentar Bacteriana (CID-10: A05)

Os agentes patogénicos das doenças veiculadas por alimentos contaminados podem ser bactérias, vírus, parasitas e produtos químicos. As principais toxinfecções alimentares bacterianas incluidas neste grupo são as originadas por Staphylococcus aureus (CID-10: A05.0), Clostridium botulinum (CID-10: A05.1), Clostridium perfringens (CID-10: A05.2), Vibrio parahaemoliticus (CID-10: A05.3) e Bacillus cereus (CID-10: A05.4); as toxinas libertadas pelas bactérias são as principais responsáveis pelo quadro clínico. Destas, a mais grave é a intoxicação alimentar pelo C. botulinum, e o quadro clínico inicial é geralmente constituido por disfagia, boca seca, diplopia ou visão turva, vómitos e diarreia ou obstipação; esta doença caracteriza-se pelo aparecimento de disfunção bilateral aguda dos nervos craneanos e flacidez ou paralisia descendente, que pode originar paragem respiratória e morte. No quadro seguinte apresentam-se algumas características epidemiológicas relevantes dos principais agentes do grupo A05 da CID-10.

Principais agentes de toxinfecções alimentares bacterianas 1

Bactéria

Período de incubação

Quadro clínico

Duração da doença

Reservatório

Transmissão 2

Bacillus cereus

1–24 horas

Náuseas e vómitos, cólicas e diarreia

1–2 dias

Solo; alimentos crus, secos e processados

Alimentos requentados e preparados horas antes da sua ingestão (p.e. arroz)

Clostridium botulinum

6–96 horas

Disfagia, boca seca, diplopia ou visão turva, vómitos, diarreia ou obstipação

3–7 dias

(por vezes meses)

Esporos no solo e sedimento marinho; intestino de animais terrestres e peixes

Alimentos enlatados (sobretudo carne e vegetais) e fumados (enchidos, presunto, salmão, etc.)

Clostridium perfringens

6–24 horas

Cólicas, diarreia, náuseas

1–2 dias

Solo; intestinos do homem, gado bovino e porcino, galináceos e peixes

Alimentos crus, mal cozinhados, ou requentados (sobretudo carne); contaminação cruzada de alimentos

Staphylococcus aureus

½–8 horas

Náuseas, cólicas, vómitos, prostração, diarreia, temperatura sub-febril, hipotensão

1–2 dias

Homem; ubre de vacas (ocasional)

Contaminação cruzada de alimentos; alimentos pré-processados mal refrigerados e/ou aquecidos (carne, cremes, maioneses, sandes, etc.)

Vibrio parahaemoliticus

4–30 horas

Diarreia, cólicas, náuseas, vómitos, febre, cefaleias

1–7 dias

Águas marítimas costeiras, sedimento marinho, bivalves e peixes

Peixe e marisco cru, mal cozinhado ou requentado; contaminação cruzada de alimentos

1 Não se incluem os agentes/doenças referidos em outras secções (salmoneloses, sigelose, febre tifóide etc.)

2 Alimentos geralmente implicados na transmissão do agente etiológico

A prevenção e controlo das intoxicações alimentares, independentemente da sua etiologia, alicerça-se essencialmente na prevenção da contaminação de alimentos e na eliminação de potenciais agentes contaminantes.

Além das «medidas gerais de higiene individual», a prevenção de intoxicações alimentares depende sobretudo da educação e procedimentos dos manipuladores de alimentos, nomeadamente no que se refere ao cumprimento dos seguintes princípios técnico-sanitários, os quais têm como finalidade garantir a segurança dos produtos alimentares em todas as fases da cadeia alimentar (desde a produção ao consumo):

Critérios laboratoriais de diagnóstico

Isolamento do agente etiológico específico numa amostra clínica.

Classificação dos casos

Caso suspeito: quadro clínico compatível.

Caso confirmado: quadro clínico compatível, após confirmação laboratorial.

Nota

As patologias referidas nesta secção são Doenças de Declaração Obrigatória em Macau.  Todos os casos suspeitos ou confirmados devem ser prontamente notificados à autoridade sanitária.