B20-24, Z21 – Infecção pelo VIH

Patogénese

O Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH 1 e 2) é um vírus ARN com a capacidade de produzir ADN através de um enzima - a transcriptase reversa - infectando prioritariamente os linfócitos T4 (fundamentais na estimulação da resposta imunitária) e outras células imunitárias (macrófagos, monócitos, etc.).

Logo no início da infecção o vírus começa a sofrer mutações, dando origem rapidamente a várias variantes, embora uma delas predomine sempre no indivíduo infectado.

A velocidade da progressão da doença depende de:

quantidade viral inoculada

virulência da estirpe (VIH-1 é mais virulento que o 2)

sexo (pior no sexo feminino)

idade (pior nas crianças e idosos)

frequência de episódios infecciosos a outros microorganismos

Descrição Clínica

Existe uma sequência faseada desde o momento da infecção até à morte, cujos períodos estão cada vez mais dilatados devido à eficácia crescente da terapêutica múltipla.

1ª fase - Seropositividade (existência de anticorpos contra o VIH) inicia-se cerca de 30-90 dias após a infecção. Nas primeiras 12 semanas poderá aparecer um efémero sindrome febril que é geralmente interpretado como uma vulgar virose inespecífica.

O diagnóstico da seropositividade é feito por 2 testes laboratoriais:

1º- Teste ELISA: a pedir inicialmente por ser mais barato e muito sensível

2º- Teste de Western-Blot: a pedir sempre para confirmar um eventual resultado falso-positivo do ELISA

O diagnóstico de seropositividade em recém-nascidos de mães seropositivas, só poderá ser feito com os testes anteriores após os 15 meses de idade devido à confusão que os anticorpos maternos herdados pelo bebé, estabelecem neste período. Actualmente, existem outras técnicas ("carga viral") que poderão fazer o diagnóstico geralmente já a partir dos 3 meses de idade.

2ª fase - Complexo relacionado com a Sida (CRS), ou seja, conjunto de sintomas não específicos com início geralmente mais de 1 ano após a infecção, se não houver terapêutica eficaz:

• astenia

• perda de peso

• febrícula e sudorese noturna

• adenopatias generalizadas e persistentes

• exantema pruriginoso

• diarreia

• inversão da relação dos linfócitos T4/T8 (os T4 diminuem em relação aos T8)

3ª fase - SIDA própriamente dita, com início, geralmente, 5-10 anos após a infecção, se não for instituída precocemente a terapêutica múltipla:

• Infecções oportunísticas: meningite a criptococos, pneumonias a pneumocystis carinii, criptosporidiase crónica, tuberculose, candidíase oral, infecções a citomegalovírus e herpéticas, toxoplasmose

• Cancros: sarcoma de Kaposi e linfomas

Actualmente, devida ao aparecimento de terapêutica muito eficaz, os períodos de tempo atrás assinalados estão muitíssimo dilatados. Considera-se que um seropositivo que seja correctamente tratado desde o início poderá viver muitas décadas antes de eclodir a SIDA.

Reservatório

Homem doente ou portador.

Via de Transmissão

Hemática, sexual e vertical (grávida -feto). Muito raramente pelo leite materno, mas nunca através do contacto directo com outros líquidos orgânicos (saliva, urina, suor, lágrimas).

A probabilidade de transmissão, depende da via de transmissão:

• Transfusão - 90%. Actualmente o risco de transmissão por transfusão é mínimo, porque alguns produtos derivados do sangue são tratados de forma a inactivar o vírus, e porque é feita pesquiza de HIV-1 a todos os dadores, desde 1986, e de HIV-2, desde 1989.

• Picada percutânea - 1%

• Sexual (genital ou oral) - 0,5%. As relações anais são mais infectantes.

• Vertical (mãe- filho, durante o parto) - 25%, se não for instituída a terapêutica correcta.

Não há transmissão através da pele ou beijo, partilha de toalhas ou roupa, casas de banho ou piscinas, talheres e pratos, picadas de mosquito.

Período de Transmissão

Desde o momento da infecção até à morte, atendendo ser uma doença incurável. O cadáver poderá manter-se infectando por um período de cerca de 8 dias, ou mais se for submetido a refrigeração (atendendo o vírus manter-se vivo em sangue coagulado durante 8 dias).

Controlo do Doente e do Portador

• inibidores da transcriptase reversa: zidovudina (AZT), zalcibatina (ddC), dideoxyinosina (ddI), estavudina (d4T), lamivudina (3TC)

• inibidores não nucleosídeos da transcriptase reversa: delvaridina, nevirapina

inibidores das proteases: ritonavir, saquinivir, indinavir, nelfinavir

© António Paula Brito de Pina, 1998