Protocolo de Rastreio das Doenças de Transmissão Sexual
Protocolo elaborado em 1993, no âmbito do Projecto Quarteira I
Responsáveis: Drª Valentina de Sousa (Autoridade de Saúde de Loulé)
e Enf. Malta (Movimento de Apoio à Problemática da Sida)
Finalidade: diminuição da prevalência de doenças transmissíveis, por
via sanguínea e sexual, no grupo de risco das prostitutas
Introdução
As mulheres que constituem o grupo-alvo deste projecto têm características muito particulares: são prostitutas do asfalto, geralmente toxicodependentes, com uma vida social e psicológica totalmente desestruturada. Não podemos, por isso, esperar delas força anímica suficiente para vencerem os obstáculos da acessibilidade aos serviços de saúde.
Sendo assim, se alguma vitória é possível obter nesta luta, ela será devida à disponibilidade e abertura que os serviços de saúde revelarem ao lidar com estas mulheres. São, por isso, aconselhados os seguintes princípios:
1º Quando for necessário efectuar colheitas para exames complementares, estas devem ser efectuadas no próprio local e no mesmo momento, sendo posteriormente enviadas ao laboratório.
2º Deve-se utilizar os poucos contactos com a utente para o máximo de manobras diagnosticas, preventivas e terapêuticas, sendo estas, sempre que possível, de toma única, administradas no próprio local e no mesmo momento.
3º É impossível exigir a estas mulheres que se lembrem do seu calendário de consultas de rotina, pelo que devem ser controladas pelos serviços de saúde, com o apoio de equipas móveis (no Algarve existem, há vários anos, equipas móveis do Movimento de Apoio à Problemática da Sida, que apoiam sanitariamente as prostitutas do asfalto).
4º Embora estas equipas móveis tenham já a responsabilidade de efectuar a distribuição de preservativos (mais como preventivo das Doenças de Transmissão Sexual - DTS), é também importante um reforço contraceptivo. Neste caso, a opção mais aconselhável pode ser a contracepção hormonal sistémica trimestral, a efectuar no local e momento das consultas de rotina.
5º As consultas de doença devem ser efectuadas por médicos, mas algumas consultas de rotina podem ser da exclusiva responsabilidade da enfermeira ligada ao projecto.
Calendário das Actividades de Rastreio das DTS
No Primeiro Ano:
Momento |
Recursos |
Procedimentos de rotina na consulta |
Procedimentos em caso de anamnese e exame clínico negativos |
Mês 0 |
Consulta médica e de enfermagem |
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Mês 1 |
Consulta de enfermagem |
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Mês 3 |
Consulta de enfermagem |
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Mês 6 |
Consulta médica e de enfermagem |
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Mês 9 |
Consulta de enfermagem |
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Mês 12 |
Consulta médica e de enfermagem |
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No Segundo Ano e Seguintes:
A utente continuará a ter um contacto trimestral com os serviços de saúde, que será alternadamente uma consulta médica ou de enfermagem, onde à semelhança das consultas anteriores serão feitas:
Trimestralmente: colheitas de exsudado cervical, vaginal, uretral, rectal para pesquisa de gonococos, tricomonas, Candida spp e polimorfonucleares;
Semestralmente: colheitas de sangue para VDRL e, caso os respectivos marcadores já pedidos tivessem sido negativos, AgHBs e AcHBs, AcHC, HIV-1 e 2;
Anualmente: Papanicolau.
Recursos Necessários
1. Recursos Materiais:
consultório
espéculos esterilizados
espátulas de Ayre
lâminas
fixador
zaragatoas
tubos de colheita de sangue
agulhas, seringas, luvas, compressas, etc.
2. Recursos Humanos:
um médico, 2 horas por semana
um enfermeiro, 4 horas por semana
tempo necessário:
Médico:
tempo de consulta = ½ hora
nº de prostitutas a rastrear = 40 (este número considera os fornecidos pelo MAPS, em 1993, para a zona específica de Quarteira)
nº de consultas médicas anuais por mulher (segundo este protocolo) = 2
cálculo: ½ hora x 40 x 2/ano = 48 semanas de trabalho por ano (0,8 horas por semana).
incluindo as consultas por doença, não previstas neste cálculo, serão necessárias 2 horas por semana (e não 0,8 horas).
Enfermeiro:
duplicou-se o tempo disponível porque, segundo o protocolo, estão previstas o dobro das consultas de enfermagem.
Técnicas
Esfregaço Papanicolau:
Antes de qualquer manobra ginecológica, introduzir o espéculo sem vaselina
Com uma espátula fazer três colheitas diferentes (para exposição em três lâminas), nos seguintes locais:
exocolo
endocolo
fundo de saco
posterior
As lâminas, devidamente marcadas, devem ser fixadas com fixador (geralmente em aerossol)
Colheita de Exsudado Cervical, Vaginal, Uretral e Rectal para Pesquisa de Gonococos, Tricomonas, Candida e Polimorfonucleares:
Preceitos comuns:
As colheitas devem chegar ao laboratório da ARS até às 16:30 horas do próprio dia
Serão efectuadas, para cada local, duas colheitas em duas zaragatoas diferentes, que serão colocadas em dois tubos estéreis diferentes (um com meio de transporte e outro com soro fisiológico)
As colheitas devem ser efectuadas antes de qualquer manobra ginecológica, usando um espéculo esterilizado e sem lubrificante
Preceitos específicos:
Exsudado uretral: colheita das amostras mais de uma hora depois da última micção, expressão da uretra ou introdução de zaragatoa no meato urinário, rodando
Exsudado vaginal: colheita no terço superior da mucosa vaginal
Exsudado cervical: após limpeza do colo com uma compressa esterilizada, comprimir as suas paredes com uma das valvas do espéculo e introduzir as zaragatoas no endocervix
Exsudado rectal: introduzir as zaragatoas no canal anal rodando e evitando a sua conspurcação com fezes
© António Paula Brito de Pina, 1998