A48.1 - Doença dos Legionários

Agente infeccioso: Legionella spp, geralmente pneumophila dos serotipos 1,4, e 6

Descrição clínica:

Em cerca de 24 horas início de astenia, cefaleias, mialgias e febre alta, seguindo-se tosse seca, dor torácica, diarreia aquosa (em 50%) e finalmente broncopneumonia (no 2º ou 3º dia) que poderá ser fatal

Afecta sobretudo homens com mais de 50 anos e défices imunitários, sendo muito raramente  diagnosticada correctamente como legionelose (em menos de 3% dos casos)

A febre de Pontiac é a forma benigna da infecção por legionella, clinicamente semelhante a uma virose. O período de incubação é de algumas horas, a recuperação é espontânea (poucos dias) e afecta sobretudo pessoas jovens. Não é uma doença de declaração obrigatória

Frequência em Portugal: taxa de incidência em 2004 (/105) = 0,49

Período de incubação: 5-6 dias (eventualmente 2-10 dias)

Reservatório: rede de água de abastecimento (torneiras, chuveiros e bypass com águas paradas), tubagens dos sistemas de ar condicionado que utilizam a vaporização de água para refrigeração, humidificadores e condensadores, sistemas de aerossol em hospitais e outros sistemas que incluam águas "paradas"

Via de transmissão: aérea não inter-humana (gotículas de água contaminada em aerossol); em hospitais também através da instilação ou inalação devido às entubações

Período de transmissão: não há transmissão inter-humana mas a legionella mantêm-se viva durante meses a anos em águas paradas, ligeiramente aquecidas, e poluídas biologicamente (a legionella sobrevive infectando amibas, outros protozoários e bactérias)

Controlo do doente ou portador: antibioterapia, o mais precoce possível, com macrólidos (eritromicina, claritromicina, azitromicina) e quinolonas. O prognóstico depende da precocidade do tratamento

Controlo dos contactos:

No caso de detecção de um doente suspeito ou confirmado:

1º- Investigar clinicamente os contactos domésticos ou do local onde provisoriamente reside (hospitais, hotéis, etc.) para detecção de novos casos e investigação da fonte ambiental comum

2º- Nos locais suspeitos de serem fonte ambiental (ex.: rede de abastecimento, nomeadamente nas torneiras e chuveiros; sistemas de climatização e refrigeração; vaporizadores e aerossóis; etc.) fazer culturas de amostras e comparar com as culturas dos doentes

3º- Fazer a limpeza mecânica nos sistemas possíveis, e implementar o super-aquecimento das canalizações a 60-77ºC durante vários dias, seguido de purga nas torneiras e chuveiros durante 30 minutos. Caso não seja possível este super-aquecimento, deve-se proceder à hipercloragem apesar das suas desvantagens (oneroso, corrosivo para as canalizações e produção de resíduos carcinogénicos), segundo três fases: hipercloragem inicial a 50 mg/l de cloro residual durante alguns minutos, com posterior descarga total do sistema, seguidamente a 30mg/l durante 4 horas com nova descarga e, finalmente, manutenção de 5 mg/l durante 3 dias. Esta água não pode ser consumida

4º- Vigilância com colheita periódica de amostras até 12 meses após o surto

Medidas de higiene preventivas: eliminação de troços com água estagnada na rede, manutenção de cloro residual entre 1-2mg/l, e temperaturas superiores a 50ºC na rede aquecida; limpeza periódica dos sistemas de climatização e vaporização

Nota: A taxa de incidência foi calculada segundo os dados da Direcção Geral de Saúde e as estimativas populacionais do Instituto Nacional de Estatística

© António Paula Brito de Pina, 1998 (2005)