A051.1 – Botulismo
Agente infeccioso: Clostridium botulinum dos tipos A, B, E e raramente de outros tipos ou outras espécies de Clostridium
Descrição clínica: flacidez simétrica e progressiva, com a consciência mantida, sem alterações do ritmo cardíaco, sem hipotensão e sem défices sensoriais evidentes. A paralisia flácida pode levar à paragem respiratória e morte (cerca de 10% dos casos).
Existem 3 formas clínicas, de acordo com a origem da infecção:
Toxinfecção alimentar: a flacidez é descendente e inicia-se com náuseas, disfagia, ptose, diplopia e diarreia;
Botulismo cutâneo: ferida infectada, febre, e flacidez progressiva a partir do local da lesão;
Botulismo infantil: obstipação, hipotonia e paralisia flácida progressiva em crianças com menos de 1 ano, ou adultos com alterações anatómicas e da flora intestinal.
Frequência notificada em Portugal: taxa de incidência em 2004 (/105) = 0,08.
Período de incubação:
Toxinfecção: cerca de 12 horas (6 horas a 8
dias)
Botulismo cutâneo: 6 dias
Botulismo infantil:
desconhecido
Reservatório: os esporos nos solos e intestinos dos animais terrestres e marinhos. Quando no intestino humano, geralmente, estão associados a doença.
Via de transmissão:
Toxinfecção:
ingestão de toxinas de alimentos
não previamente fervidos e sujeitos a processo incompleto de conservação, nomeadamente
conservas não industriais (caseiras) de vegetais, frutas, peixe não esviscerado e,
particularmente na Europa, de presuntos e enchidos de carne.
Botulismo cutâneo:
contaminação de ferida com esporos do
solo;
Botulismo infantil:
ingestão de esporos de alimentos e
do meio ambiente que no intestino iniciam produção de toxinas.
Período de transmissão: não se aplica – embora seja frequente a excreção da toxina (toxinfecção) e do Clostridium nas fezes (botulismo infantil), não há transmissão inter-humana.
Controlo do doente ou portador:
Toxinfecção:
Soro equino antitoxina (IM e EV) o mais precocemente possível;
Medidas de suporte, nomeadamente ventilação assistida;
A antibioterapia não é útil.
Botulismo cutâneo:
Limpeza e desbridamento da ferida contaminada.
Soro equino antitoxina (IM e EV) o mais precocemente possível; não
é útil a sua administração tópica na ferida;
Medidas de suporte, nomeadamente ventilação assistida;
Penicilina.
Botulismo infantil:
Medidas de suporte, nomeadamente ventilação assistida;
O soro equino antitoxina e a antibioterapia são inúteis e podem
ter efeitos adversos.
Controlo dos contactos:
Quando surge um ou mais casos dever-se-á investigar a
existência de contactos que tenham consumido os mesmos alimentos suspeitos, através da
clínica e da identificação da toxina (inoculação no rato) ou do Clostridium
(cultura) nas amostras da comida, das fezes, aspirado gástrico e soro.
Lavagem gástrica e aceleração do trânsito
intestinal aos contactos que consumiram alimentos contaminados. A administração
profilática de soro equino antitoxina não está indicada em crianças, e em adultos se o
risco de adoecer for pequeno, atendendo ao perigo de hipersensibilização.
Medidas de higiene alimentar:
Evitar o consumo de conservas com a lata danificada, abaulada (sinal
de produção de gás), ou com odores;
Antes do consumo, ferver sempre que possível os alimentos (destrói
a toxina em 10 minutos) semi-processados em vácuo, fumados ou de conservas domésticas.
Alimentos contaminados devem ser fervidos e enterrados profundamente
para evitar o seu consumo por animais;
Utensílios contaminados devem ser fervidos ou desinfectados com
cloro.
Nota: A taxa de incidência foi calculada segundo
os dados da
Direcção Geral de Saúde
e as
estimativas populacionais do
Instituto Nacional de
Estatística
© António Paula Brito de Pina, 1998
(2005)