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Investigação
e Estatística Metodologia Básica da Investigação |
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Ao contrário do que muitos julgam, não basta saber Estatística para fazer Investigação, atendendo que: 1º- A Estatística nunca dá certezas, dá apenas probabilidades baseadas em pressupostos fictícios, tal como explicaremos na Parte 2 desta brochura. 2º- Os resultados estatisticamente significativos podem não ter relevância..., nomeadamente quando a amostra é muito grande, porque é possível obter resultados estatisticamente significativos nas pequenas diferenças encontradas entre dois subgrupos da amostra, mesmo quando estas diferenças, além de pequenas, são pouco importantes. 3º- Os resultados da Estatística poderão dar-nos uma ideia sobre a eventual associação entre variáveis, mas nunca nos revela a relação de causalidade... Por exemplo, a Estatística poderá demonstrar que determinados perfis psicopatológicos poderão estar associados à toxicodependência mas, saber se é esta psicopatologia que leva à toxicodependência, ou vice-versa, só pode ser respondido tendo em conta o desenho do estudo, nomeadamente um desenho que permita saber o que é que acontece primeiro (as perturbações psicopatológicas ou a toxicodependência). 4º- Se os dados que introduzimos no computador para fazer os cálculos estatísticos não forem os correctos, a interpretação dos resultados poderá ser impossível ou levar a conclusões totalmente erradas... Por exemplo, se quisermos comparar o peso de dois grupos, e utilizarmos uma balança diferente para os dois grupos poderemos obter resultados enganadores... Este problema inclui-se nos denominados viéses de informação! 5º- Se o enquadramento teórico do estudo não for o correcto, é fácil chegar a conclusões erradas porque os resultados estatísticos são espúrios... Um exemplo de uma de uma associação espúria é a associação estatisticamente significativa entre o número de telemóveis existentes num país e o número de doenças cardíacas. Um aprendiz a investigador poderia concluir erradamente que a influência das ondas dos telemóveis poderia provocar um aumento das doenças cardiológicas. Sucede no entanto que os países onde há mais telemóveis são também os mais ricos e, devido à sobre-alimentação, têm com maior frequência doenças cardíacas. Assim, há aqui uma terceira variável escondida, que pode provocar uma associação estatisticamente significativa mas totalmente espúria. Esta terceira variável denomina-se de confundimento porque produz um viés de confundimento. Outro exemplo dum viés de confundimento em investigação é o que aconteceu num estudo efectuado há alguns anos, sobre os efeitos de deixar de fumar. Verificou-se então que a maioria dos fumadores que largavam o mau hábito, morriam mais frequentemente no primeiro ano que os que continuavam a fumar. A conclusão lógica seria que qualquer fumador deveria manter o seu hábito ... Sucede que, infelizmente, muito dos fumadores que deixam de fumar, fazem-no porque já se sentem doentes, o que aumenta a probabilidade de morrerem no ano seguinte, enquanto os outros ainda se sentem saudáveis e em muitos casos ainda o estão... O que se passou neste estudo é que não se controlou o efeito de uma variável de confundimento fundamental: o fumador já estava doente ou não, quando deixou de fumar? Estas questões têm a ver fundamentalmente com o desenho do estudo e não com a Estatística. Assim, para iniciar um trabalho de investigação é necessário seguir várias regras para evitar escorregadelas. A primeira regra de ouro é que antes de avançar para o trabalho de campo é fundamental sempre elaborar um protocolo que nos guie no futuro. Para isto teremos que seguir uma sequência de passos que nos pouparão muitos problemas e dissabores... A sequência que vou expor pode ser parcialmente modificada, nomeadamente as fases posteriores poderão obrigar a reconsiderar as fases iniciais, mas genericamente é sempre a sequência a utilizar. |
Índice Parte 1 - metodologia básica da investigação 1º Identificação do assunto a investigar 2º Identificação das variáveis do estudo 3º Identificação da população e amostra do estudo 4º Definição do desenho do estudo 5º Planeamento da recolha e análise dos dados 6º Interpretação dos resultados (e elaboração do relatório) Parte 2 - noções de estatística 2.2 Testes Qui-quadrado e Fisher 2.3 Testes de Student / ANOVA e de Mann-Whitney / Kruskal-Wallis 3.1 Estudos de coorte 3.2 Estudos de caso-controlo Anexo 1 - Revisão bibliográfica Anexo 2 - Controlo das variáveis interferentes |
© António Paula Brito de Pina, 2006