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Investigação e Estatística

2.1 Intervalos de Confiança

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Quando solicitamos o comando "FREQUENCIES" para uma variável como o sexo, por ex., o EpiInfo dá-nos os valores das percentagens de cada sexo e o Intervalo de Confiança de 95% para as mesmas percentagens.

Este intervalo de confiança só tem interesse se as percentagens em causa são de uma amostra seleccionada aleatoriamente de uma população mais vasta.

Por exemplo, suponhamos que a nossa base de dados "Experiência" (5 elementos em que 3 são homens e 2 são mulheres) representa uma amostra de todos os utentes dum serviço de saúde. Nesta amostra poderemos dizer que existem 60% (3/5=0,6) de homens e 40% (2/5=0,4) de mulheres. Mas será que as percentagens de cada sexo, em toda a população de utentes, são também estas? Nunca o saberemos ao certo com estes dados. No entanto, aplicando a prova que o EpiInfo aplica, poderemos acreditar com uma confiança de 95% que a percentagem de homens na população estará algures entre 14,7% e 94,7% e a percentagem de mulheres entre 5,3% e 85,3% [1].

Repare-se que neste caso os intervalos de confiança são muitíssimos dilatados, atendendo que a amostra em causa conta com apenas 5 elementos, pelo que o erro de amostragem é enorme.

É evidente que quanto maior for a nossa amostra, mais pequeno será o intervalo de confiança e por isso, mais provável será obtermos extrapolações precisas das verdadeiras percentagens da população.

Mas atenção: mesmo este intervalo não é uma certeza pois tem uma confiança de 95%, ou seja, há sempre uma probabilidade de 5% de a verdadeira percentagem estar fora destes limites...

É claro que, se as percentagens em causa forem calculadas tendo por base não uma amostra mas toda a população, os intervalos de confiança que o EpiInfo automaticamente vomita não têm significado absolutamente nenhum, pelo que devem ser ignorados. Um exemplo é quando um médico introduz os dados de todo o seu ficheiro clínico e depois quer saber a percentagem de cada sexo para o seu ficheiro. Se o resultado for 35% de mulheres, é mesmo 35% sem qualquer dúvida ou intervalo de confiança, pois ele quis saber a percentagem de mulheres do seu ficheiro que, neste caso, está totalmente informatizado.

Finalmente, tenha-se em atenção que se a amostra não é aleatória, também não será legítimo falar-se em intervalos de confiança para a população, porque aqui a amostra não será representativa de nenhuma população conhecida.


[1] Novamente, segundo os Estatísticos, a interpretação deverá ser feita com uma pequena nouance: um intervalo de confiança de 95% significará que se seleccionarmos um número infinito de amostras sempre da mesma forma aleatória, em 95% delas, estarão incluídos os valores "verdadeiros" no intervalo de confiança resultante.

Índice

Parte 1 - metodologia básica da investigação

1º  Identificação do assunto a investigar

2º  Identificação das variáveis do estudo

3º  Identificação da população e amostra do estudo

4º  Definição do desenho do estudo

5º  Planeamento da recolha e análise dos dados

6º  Interpretação dos resultados (e elaboração do relatório)

Parte 2 - noções de estatística

1. Estatística descritiva

2. Estatística dedutiva

2.1  Intervalos de confiança

2.2  Testes Qui-quadrado e Fisher

2.3  Testes de Student / ANOVA e de Mann-Whitney / Kruskal-Wallis

3. Força da associação

3.1  Estudos de coorte

3.2  Estudos de caso-controlo

Anexo 1 - Revisão bibliográfica

Anexo 2 - Controlo das variáveis interferentes

Anexo 3 - Cálculo da dimensão da amostra

Bibliografia

© António Paula Brito de Pina, 2006