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Investigação e Estatística Definição do Desenho do Estudo |
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Seguidamente tentaremos classificar os vários tipos de estudos de investigação existentes. Como é costume, os melhores desenhos são também os que requerem mais recursos, sendo geralmente impossíveis de executar. A- Estudos Experimentais São estudos caracterizados por aleatoriamente distribuirmos uma população em dois grupos e posteriormente manipularmos as variáveis explicativas num grupo, de forma a estudar o seu efeito nas variáveis resultado. O outro grupo serve como termo de comparação e chama-se o grupo-controlo ou testemunha. Estes estudos são os mais sofisticados e são os únicos que poderão fazer um controlo eficaz das confusões provocadas pelas variáveis de confundimento que desconhecemos, revelando assim relações de causalidade. Isto porque ao distribuirmos aleatoriamente os indivíduos pelos dois grupos, temos a garantia de não haver grandes diferenças significativas entre os grupos, relativamente às ditas variáveis de confundimento desconhecidas. B- Estudos de Observação Analíticos Estudos de coorte Se pudermos fazer duas ou mais medições ao longo do tempo numa determinada população, poderemos saber quais os efeitos que a exposição a um factor terá no final, comparando os que desde o início estiveram expostos com aqueles que nunca estiveram expostos ao factor. Embora possamos ver algumas semelhanças destes estudos com os estudos experimentais, repare-se que o investigador não faz a diferenciação dos dois grupos de forma aleatória como acontece nos estudos experimentais, sendo apenas o destino que separa o grupo exposto do não exposto. Da mesma forma, neste caso, o investigador também não tem qualquer poder de manipulação da variável de exposição, limitando-se a observar... Um exemplo prático é estudar numa população de heroinodependentes qual a forma de consumo com maior risco de mortalidade ao fim de um ano. Bastaria dividir a população segundo a forma de consumo (ex.: injectável ou não) no início do ano, e depois, no final do ano, verificar quantos morreram num grupo e no outro. Estes estudos possibilitam o cálculo de taxas de incidência e prevalência, assim como do risco relativo (o EpiInfo efectua estes cálculos automaticamente). Estudos de caso-controlo Poderão ser confundidos com os estudos de coorte porque também se baseiam em medições ao longo do tempo, mas aqui os 2 grupos dividem-se tendo em conta os efeitos e não a exposição. Ou seja, utilizando o exemplo anterior, caso não pudéssemos de antemão saber quantos estiveram expostos ou não, seria sempre fácil diferenciar o grupo entre os que morreram ou não no final do ano. Se soubermos, através de informação colhida num ficheiro, qual a forma de consumo utilizada no passado, é possível estimar também algo aproximado ao risco relativo que, neste caso, é denominado Odds Ratio. Estudos transversais analíticos Os estudos transversais analíticos são "fotografias" mas que também poderão incluir alguma análise quando as variáveis de exposição e de resultado são persistentes ao longo do tempo. Por exemplo, é possível estudar a associação entre a variável sexo (obviamente, quase imutável...) e uma determinada doença crónica, numa população. C - Estudos Descritivos Um estudo descritivo é aquele que ambiciona apenas estimar parâmetros de uma população, nomeadamente proporções, médias, etc. Não necessita de elaboração de hipóteses de estudo pois trata-se apenas de uma "fotografia" da situação. Tais estudos têm a importância fundamental de serem sempre o primeiro passo da investigação. Deles nascem as hipóteses que poderão ser estudadas em estudos mais sofisticados. Todos os investigadores e toda a investigação deverá começar por aqui. |
Índice Parte 1 - metodologia básica da investigação 1º Identificação do assunto a investigar 2º Identificação das variáveis do estudo 3º Identificação da população e amostra do estudo 4º Definição do desenho do estudo 5º Planeamento da recolha e análise dos dados 6º Interpretação dos resultados (e elaboração do relatório) Parte 2 - noções de estatística 2.2 Testes Qui-quadrado e Fisher 2.3 Testes de Student / ANOVA e de Mann-Whitney / Kruskal-Wallis 3.1 Estudos de coorte 3.2 Estudos de caso-controlo Anexo 1 - Revisão bibliográfica Anexo 2 - Controlo das variáveis interferentes |
© António Paula Brito de Pina, 2006